Folha de S. Paulo


Bolsa cai 2,59% com cenários político e externo; dólar sobe a R$ 3,67 com BC

Os investidores reagiram negativamente à decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki de determinar que o juiz Sergio Moro encaminhe todas as investigações envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Operação Lava Jato para a corte.

A queda das commodities e a valorização global do dólar contribuíram ainda para que o Ibovespa caísse mais de 2% nesta quarta-feira (23). Já a moeda americana também se valorizou ante o real em função da atuação mais forte do Banco Central na compra da moeda. O dólar subiu mais de 2% ante o real, chegando ao patamar de R$ 3,67, no caso da moeda comercial.

O Ibovespa fechou em queda de 2,59%, aos 49.690,05 pontos. O giro financeiro foi de R$ 6,031 bilhões, mais baixo do que os anteriores, com a cautela provocada pela proximidade do feriado. "Os investidores achavam que estava tudo tranquilo esta semana em relação ao cenário político, mas a decisão de Teori, favorável ao governo, mostrou que a briga não vai ser assim tão fácil", afirma Alexandre Soares, analista da BGC Liquidez.

O mercado, até então, vinha trabalhando com um cenário de que um eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff poderia ocorrer logo. Mas o entendimento é que os últimos acontecimentos no campo político podem virar o jogo.

A divulgação de planilhas da Odebrecht com pagamentos a cerca de 200 políticos também deixou o mercado ressabiado. "A lista envolve vários nomes da oposição, e pode dar margem à interpretação de que, no fim, tudo pode acabar em pizza, inclusive o impeachment", comenta um operador

As ações preferenciais da Petrobras perderam 4,06%, a R$ 7,78, e as ordinárias recuaram 5,34%, a R$ 9,92, pressionadas também pela queda do petróleo. Em Londres, o petróleo Brent caía 3,02%, a US$ 40,53 o barril; nos EUA, o WTI tinha queda de 3,98%, a US$ 39,80, repercutindo o aumento dos estoques norte-americanos da commodity.

Além disso, um executivo sênior da AIE (Agência Internacional de Energia) afirmou que um acordo entre alguns produtores da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e a Rússia para congelar a produção pode ser "inexpressivo", uma vez a Arábia Saudita seria o único país capaz de aumentar a oferta.

Os papéis da Vale recuaram 7,07%, a R$ 10,50 (PNA), e 8,48%, a R$ 14,12 (ON), reagindo ainda à queda do preço do minério de ferro na China.

No setor financeiro, Itaú Unibanco PN perdeu 3,18%; Bradesco PN, -3,25%; Bradesco ON, -3,20%; Banco do Brasil ON, -3,72%; Santander unit, -2,28%; e BM&FBovespa ON, -1,22%.

DÓLAR

A moeda americana encerrou a sessão com alta superior a 2%, acompanhando o movimento nos mercados globais e também em reação à atuação mais agressiva do Banco Central nesta quarta-feira.

A moeda americana à vista avançou 2,34%, a R$ 3,6679, enquanto o dólar comercial subiu 2,10%, a R$ 3,6780.

O BC realizou nesta quarta-feira, pelo terceiro dia seguido, uma operação de swap cambial reverso, que equivale à compra de dólares pela autoridade monetária.

Dólar volta a subir com BC e cenário externo - Variação da moeda americana à vista em 2016, em R$

Do total de 20.000 contratos ofertados, com dois vencimentos, foram aceitos 17.000, movimentando um total de US$ 837,7 milhões. Além disso, a autoridade reduziu a rolagem diária de swap cambial tradicional (equivalente à venda para o mercado) de 3.600 para 2.500 contratos.

"O dólar subiu hoje em função do cenário externo e da atuação do Banco Central", afirma Cleber Alessie, operador de câmbio da operadora H.Commcor. "A percepção do mercado é que o BC pode oferecer liquidez comprando dólar para aliviar a pressão de venda mercado spot (à vista)."

O profissional destaca que, ao mesmo tempo, a autoridade monetária aproveita para reduzir sua posição vendida. Segundo Alessie, o volume de negócios está mais baixo esta semana, com investidores cautelosos com eventuais novidades no cenário político durante o feriado de Páscoa, em que o mercado estará fechado.

DÓLAR
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NOTAS DE DÓLAR

A atuação do BC foi combinada com um movimento de alta global do dólar, com a percepção do mercado que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) poderá voltar a subir os juros mais cedo que o esperado.

A leitura ocorreu depois que o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, indicou nesta terça-feira (22) que o aumento dos juros americanos deve ser mais agressivo do que o mercado tem precificado. Também na terça-feira, o presidente do Fed da Filadélfia, Patrick Harker, afirmou que o BC americano pode considerar uma alta dos juros já em abril.

Os juros futuros também subiram: o contrato de DI para janeiro de 2017 saiu de 13,710% na sessão anterior para 13,720%; o DI para janeiro de 2021 passou de 13,610% para 13,850%.

O CDS (credit default swap), uma espécie de seguro contra calote e indicador da percepção de risco do país, avançou 5,74%, para 387,343 pontos.

EXTERIOR

Em Nova York, os índices acionários fecharam em queda: Dow Jones (-0,45%); S&P 500 (-0,64%) e Nasdaq, -1,09%, refletindo a queda das commodities e a percepção de que uma alta dos juros americanos está mais próxima, o que desloca recursos para o dólar.

Na Europa, a Bolsa de Londres fechou em alta de 0,10%; a de Paris caiu 0,18%; Frankfurt, +0,33%; Madri, -0,72% e Milão, -1,26%, em meio ao enfraquecimento do euro.

As Bolsas chinesas subiram nesta quarta-feira, impulsionadas por uma leve alta no meio da sessão. Porém, os outros mercados da região caíram.


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