Folha de S. Paulo


Inflação de 2015 deve elevar a de 2016 em até 2 pontos, dizem economistas

A advogada Mariana Paranhos, 38, recebeu na semana passada um comunicado da escolinha do filho Alexandre, 4, sobre o reajuste da mensalidade do ano que vem. O valor vai subir 12% em janeiro, para R$ 2.600 mensais.

"Não foi uma surpresa, porque sabemos como estão os preços no país. Mas é mais aumento no nosso custo de vida, afirma ela.

A creche do filho Pedro, de 6 meses, também será reajustada a partir de janeiro. Plano de saúde, aluguel, conta de luz, tudo ficará mais caro para repor a inflação de 2015, que vai terminar o ano provavelmente acima de 10%.

Os repasses em série são o que se chama de inércia inflacionária. Ela será responsável por 1 a 2 pontos percentuais da inflação do ano que vem, segundo economistas consultados pela Folha.

Em geral, essa inércia é provocada por reajustes de preços previstos em contratos (indexação), como nas tarifas de ônibus e dos pedágios. Em outros casos, são bens e serviços tendo seus custos repostos, como cabeleireiros.

Ricardo Borges/Folhapress
A advogada Mariana Paranhos com seus dois filhos, Alexandre (esq.) e Pedro
A advogada Mariana Paranhos com seus dois filhos, Alexandre (esq.) e Pedro

EM ACELERAÇÃO

"Sempre há inércia de um ano para o outro porque a economia é ainda indexada. Só que, se os preços sobem demais num ano, o impacto se torna mais preocupante no ano seguinte", diz Márcio Milan, da Tendências.

Isso vai tornar ainda mais árduo o trabalho do BC de manter a inflação abaixo do teto da meta de inflação (6,5% no ano que vem), segundo Flávio Serrano, economista do banco chinês Haitong.

"Os repasses talvez só não sejam maiores porque a economia está em recessão e o empresário pode ter medo de perder clientes", afirma.

Inflação - Variação do IPCA, em %

Ele prevê repasses de 1 a 1,2 ponto percentual em 2016 e prevê que o ano termine com IPCA próximo de 7%. Para Milan, a expectativa é de inércia de 1,5 a 2 ponto percentual para o próximo ano, com IPCA em 6,5% ao fim de 2016.

Elson Teles, economista do Itaú Unibanco, prevê inércia inflacionária de 2 pontos percentuais. Para ele, a inflação deve ficar em 6,8% no fim de 2016. A inflação subiu 10,48% nos últimos 12 meses deste ano. Os preços administrados pelo governo foram responsável por 40% do aumento, seguindo pela alta dos preços dos alimentos (25%).

Inflação nas regiões - Variação acumulada em 12 meses, em %

SALÁRIO MÍNIMO

Outra inércia que preocupa economistas é a do salário mínimo, que deve subir de 10,9% no próximo ano, para R$ 874, segundo cálculo da consultoria Tendências.

O salário mínimo é reajustado pela inflação pelo INPC do ano anterior (projetado para algo como 11%) e mais a variação do PIB de dois anos antes, que foi de 0,1%.

Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, diz que outros fatores de pressão sobre a inflação no próximo ano são o câmbio e um possível aumento de impostos, por causa das "dificuldades dos governadores para fechar as contas".

Vencer a inércia inflacionária foi um dos desafios do Plano Real, em 1994: os preços eram automaticamente reajustados pela inflação passada. Na época, porém, o quadro era muito mais grave.

"Eram diversos aumentos por dia. Até para o IBGE, medir inflação era difícil e você não conseguia explicar as causas", disse Eulina Nunes, coordenadora no IBGE.

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