No mês passado, reportagem da Folha informou que um grupo de estudantes brasileiros vem promovendo a difusão do pensamento liberal em universidades e nas escolas, cansados que estão com o pensamento marxista e estatizante que consideram estar impregnado no ensino.
Se conseguirem êxito, certamente "Livre para Escolher - Um Depoimento Pessoal" estará entre os livros de cabeceira dos "convertidos".
Escrita por Milton Friedman (1912-2006), um dos grandes expoentes da história do liberalismo econômico, em coautoria com sua mulher, Rose Friedman (1910-2009), a obra -que também virou série de TV nos EUA- é um manual em dez capítulos sobre as virtudes do livre mercado e as mazelas do papel intervencionista do Estado.
Quando foi lançada, em 1980, o Reino Unido ingressava na revolução liberal de Margaret Thatcher e os EUA estavam prestes a vivenciar 12 anos republicanos iniciados por Ronald Reagan. Os dois países vinham de governos trabalhista e democrata, e Friedman não economiza em atacar suas políticas consideradas intervencionistas e inflacionárias.
A maré, dizia Friedman, estava mudando, e o seu receituário encontrava uma janela de oportunidade.
Entre inúmeras citações a Adam Smith (1723-1790) e sua mão invisível, diz que ao Estado cabem poucas atribuições, entre as quais garantir o funcionamento das regras da economia de mercado.
Prêmio Nobel de Economia em 1976, Friedman é, por exemplo, avesso a todo tipo de Imposto de Importação. Essas tarifas, chamadas de "proteção", são "um bom rótulo para uma causa ruim". Representam, diz, a explo-
ração do consumidor, obrigado a pagar mais para manter empregos de setores menos produtivos.
O efeito, afirma, é prejudicial a toda a economia. Se um país estrangeiro é desestimulado a exportar por causa de tarifas para, digamos, a indústria têxtil, terá menos recursos para importar, o que, no fim das contas, afetará outros setores da economia protecionista, que deixarão de vender.
O Estado de Bem-Estar Social é outro alvo de críticas, assim como as atividades regulatórias.
Para Friedman, se a economia planificada e a estatização fracassaram, o governo passou a se expandir via programas sociais. Apesar dos objetivos nobres, os resultados são desapontadores -ineficiência, corrupção.
BOLSA FAMÍLIA
Friedman clama pelo fim do Estado paternalista, mas sugere como transição aquilo que chama de "Imposto de Renda negativo", um subsídio concedido às famílias que não tivessem rendimento, o qual diminuiria à medida que elas passassem a ganhar dinheiro por conta própria -seria um dos maiores ícones da Escola de Chicago o verdadeiro pai do Bolsa Família?
Não faltam críticas às agências reguladoras. Friedman não poupa nem a FDA (Food and Drug Administration), órgão equivalente à Anvisa nos EUA. Sua existência é contraproducente, pois, com sua burocracia, atrasa a produção de medicamentos.
Uma empresa, diz, não lançaria um remédio prejudicial ao consumidor porque não seria do seu interesse, pois perderia os clientes e teria de pagar indenizações.
INFLAÇÃO
"Doença perigosa", para Friedman, é a inflação. Ela é simplesmente um fenômeno monetário, "da máquina de impressão", que acontece quando a quantidade de dinheiro em circulação cresce mais do que o aumento da produção.
Perigosa e fatal -se não controlada a tempo, pode destruir uma sociedade, como a hiperinflação alemã, que acabou redundando na Segunda Guerra Mundial. E produzida pelo governo, ao financiar seus gastos -no Brasil, conhecemos bem essa história.
Inflação, diz Friedman, tem cura, e ela não se encontra no baixo crescimento e no aumento do desemprego -estes, afirma, são dolorosos efeitos colaterais.
A cura é um aumento mais lento na quantidade da moeda -o governo gastar menos-, e os benefícios vêm "um ou dois anos depois, na forma de inflação mais baixa, economia saudável e potencial para um rápido crescimento não inflacionário".
Será esse o Brasil de 2017?
LIVRE PARA ESCOLHER - UM DEPOIMENTO PESSOAL
AUTORES Milton Friedman e Rose Friedman
EDITORA Record (474 págs.)
PREÇO R$ 48
AVALIAÇÃO Ótimo