O reajuste nos preços dos combustíveis pela Petrobras foi comemorado pelo mercado como um sinal de independência da gestão da companhia, mas considerado insuficiente para livrar a estatal da delicada situação financeira em que se encontra.
As ações da empresa dispararam na Bolsa nesta quarta (30), um dia após o anúncio de aumento, nas refinarias, de 6% no preço da gasolina e 4% no preço do diesel.
As ações preferenciais, mais negociadas e sem direito a voto, fecharam em alta de 9,86%, para R$ 7,24. Já os papéis ordinários, com direito a voto, avançaram 8,79%, para R$ 8,54. A disparada ajudou o Ibovespa, principal índice da Bolsa paulista, a fechar o dia em alta de 2,1%.
"O aumento pouco ajudará a geração de fluxo de caixa da Petrobras em reais e é insuficiente para compensar a desvalorização da moeda nacional desde o último reajuste, em novembro de 2014", escreveram analistas da Fitch Rating. A agência é a única das três grandes grandes a manter o grau de investimento (selo de bom pagador) para a Petrobras –S&P e Moody's avaliam a estatal como grau especulativo.
De acordo com a agência de classificação de risco, mesmo após o aumento, a geração de caixa anualizada da Petrobras deve cair dos US$ 27,9 bilhões nos primeiros seis meses deste ano para US$ 23,5 bilhões.
Com US$ 111 bilhões em empréstimos atrelados a moedas estrangeiras, a Petrobras tem encontrado dificuldades para levantar novos recursos e financiar seu plano de investimentos.
MAIS MEDIDAS
O mercado considera a possibilidade de novos reajustes neste ano, caso o cenário continue se deteriorando.
"Acreditamos que os investidores vão louvar os reajustes de preços, mas, considerando a deterioração macroeconômica, amanhã eles perguntarão quando será o próximo", comentaram os analistas Marcos Severine e Felipe dos Santos, do banco norte-americano JPMorgan.
Para eles, o aumento dos combustíveis anunciado na terça é inferior ao necessário para reduzir a queima de caixa da companhia.
Eles defendem que não há solução única para os problemas da estatal, que necessita também de cortes de custos, redução de investimentos e venda de ativos.
"A leitura negativa do aumento de preços [ainda mais] acima da paridade de importação é que as mudanças estruturais necessárias estão se mostrando mais difíceis do que se pensava", concordam analistas do BTG Pactual.
"Com o reajuste, a Petrobras fica acima da linha d'água no que diz respeito aos resultados de sua política de importação de combustíveis. Ao menos momentaneamente. Ou enquanto o petróleo e o dólar ficarem quietinhos em seu devido seu lugar", resumiu o analista Roberto Altenhofen, da Empiricus.