Folha de S. Paulo


Petrobras dispara e impulsiona Bolsa após reajuste de combustíveis

Agência Petrobras
Plataforma da Petrobras em São Roque do Paraguaçu (BA)
Plataforma da Petrobras em São Roque do Paraguaçu (BA)

As ações da Petrobras dispararam mais de 8% nesta quarta-feira (30), refletindo o reajuste nos preços dos combustíveis anunciado pela estatal na véspera. O avanço deu força ao principal índice da Bolsa brasileira, também influenciado pela alta dos mercados externos, mas não impediu a queda do Ibovespa no mês.

O preço da gasolina sofreu reajuste de 6% nas refinarias, conforme anunciado pela Petrobras na última terça-feira (29). Já o diesel subiu 4%. A decisão foi tomada diante dos problemas de caixa da empresa após a forte alta do dólar nos últimos dias, que eleva o endividamento da companhia.

As ações preferenciais (mais negociadas e sem direito a voto) da Petrobras tiveram valorização de 9,86%, para R$ 7,24 cada uma. Foi o maior avanço diário desde 3 de fevereiro, quando subiram 15,47%. Já os papéis ordinários da companhia, com direito a voto, avançaram 8,79%, a R$ 8,54.

"O reajuste reduziu um pouco a pressão sobre a empresa, pois a forte desvalorização do real desde o início do ano estava gerando preocupação com o caixa da Petrobras. Cada centavo que o dólar sobe significa aumento também da dívida da companhia, elevando o risco de dificuldades financeiras", disse Alexandre Wolwacz, diretor da escola de investimentos Leandro & Stormer.

O bom desempenho da Petrobras no dia amparou a alta do Ibovespa, que fechou a sessão com ganho de 2,10%, para 45.059 pontos. O volume financeiro foi de R$ 8,016 bilhões. No acumulado de setembro, porém, o índice caiu 3,36%. Foi o terceiro mês consecutivo de perdas.

"A Bolsa brasileira teve sete quedas consecutivas e atingiu na última sessão seu menor nível desde 2009, o que motivou compras nesta quarta-feira e também estimulou o avanço do Ibovespa", completou Wolwacz.

Das 64 ações do Ibovespa, apenas 13 caíram e uma ficou estável —a varejista Hering, em R$ 14,05. Entre as baixas ficaram os papéis de siderúrgicas, como Gerdau (-3,70%), Usiminas (-2,33%) e CSN (-0,25%).

As principais Bolsas da Europa avançaram mais de 2%, enquanto em Nova York, Estados Unidos, os índices acionários subiram entre 1,47% e 2,28%. O movimento foi guiado por medidas de estímulo na China que aliviaram momentaneamente as preocupações com o crescimento da segunda maior economia do mundo.

Mesmo com o alívio desta quarta-feira, a avaliação de analistas consultados pela Folha é que a tendência para a Bolsa segue negativa para os próximos meses, pressionada pela crise política e fiscal no Brasil e pelo cenário de taxa de juros elevada, o que reduz a atratividade da renda variável se comparada a aplicações na renda fixa.

DÓLAR E JUROS CAEM

No mercado de câmbio, o dólar teve desvalorização sobre o real nesta quarta-feira, influenciado pela formação da ptax (taxa média de câmbio calculada diariamente pelo Banco Central, cujo valor no último dia útil de cada mês serve como referência para contratos no mercado financeiro).

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou com forte desvalorização de 3,43%, para R$ 3,957 na venda. No acumulado de setembro, porém, houve alta de 8,93%. Já o dólar comercial, utilizado em transações de comércio exterior, cedeu 2,34% no dia e subiu 9,23% no mês, para R$ 3,964.

"Os agentes de mercado acabam operando no último pregão do mês de acordo com seus interesses para a ptax: quando têm que honrar compromissos, preferem a taxa mais baixa, e quando têm que receber, querem uma taxa mais alta. Isso gera instabilidade na cotação do dólar neste dia", disse Fernando Bergallo, gerente de câmbio da corretora TOV.

Para Bergallo, apesar do alívio dessa sessão, o dólar segue pressionado pela deterioração do cenário político e econômico no Brasil, além da expectativa de aumento dos juros nos Estados Unidos ainda neste ano, o que retiraria investimentos dos emergentes, encarecendo a moeda americana.

"Não houve mudança de cenário de ontem para hoje: permanecem as dificuldades do governo de aprovar medidas de ajuste fiscal e um novo corte na nota de crédito do país por agências de risco já é certo, só resta saber quando isso vai acontecer", completou o gerente de câmbio.

Para Fabiano Rufato, gerente de câmbio da Western Union no Brasil, o cenário interno ofuscou dados dos EUA nesta sessão. "A reforma ministerial ajudou a derrubar o dólar, com a avaliação de investidores de que pode destravar o ajuste fiscal no Congresso, então nos próximos dias pode haver a manutenção do alívio de hoje", disse.

O setor privado dos Estados Unidos criou 200 mil postos de trabalho em setembro, superando as expectativas dos economistas e sugerindo que pode haver crescimento suficiente do mercado de trabalho para que o banco central norte-americano eleve a taxa de juros este ano. O número de vagas criadas em agosto pelo setor privado foi revisado para baixo a 186 mil, ante aumento de 190 mil divulgado anteriormente.

Sem pressão no dólar nesta sessão, o Banco Central do Brasil realizou pela manhã o último leilão para estender os vencimentos dos contratos de swaps cambiais que estão previstos para outubro, após vender parcialmente a oferta no pregão anterior. A operação equivale a uma venda futura de dólares.

No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2016 caiu de 14,795% para 14,615%, enquanto o DI para janeiro de 2021 teve baixa de 16,100% para 15,600%.


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