Folha de S. Paulo


Novo tombo de Bolsas chinesas arrasta ações, e dólar dispara

Kim Kyung-Hoon - 6.jul.2015/Reuters
Operador da bolsa observa painel em Pequim, na China
Operador da bolsa observa painel em Pequim, na China

Um novo tombo nas Bolsas chinesas nesta segunda-feira (27) voltou a alimentar o medo entre os investidores de que o país asiático enfrente mais dificuldades que o esperado e um estouro de uma possível bolha no mercado de ações esteja próximo.

O temor arrastou para o vermelho as principais Bolsas do mundo (veja quadro abaixo) e fez o dólar disparar.

No Brasil, a moeda americana à vista terminou o dia valendo R$ 3,362, o maior valor desde 28 de março de 2003, quando estava cotado em R$ 3,373. No entanto, se consideradas as inflações no Brasil e nos EUA nesse período, aquele valor equivaleria hoje a R$ 5,285.

Ao receio de uma tormenta na economia chinesa somam-se as incertezas em relação ao cenário político brasileiro e à manutenção do grau de investimento pelo país (atestado de bom pagador conferido pelas agências de risco).

Bolsa chinesa

A queda de 8,48% na Bolsa de Xangai, a segunda maior de sua história e a mais aguda desde 2007, foi influenciada pela divulgação de dados da indústria aquém do esperado. O lucro das maiores companhias do país caiu 0,7% no semestre contra o mesmo período de 2014.

A notícia reforçou o pessimismo gerado pelo anúncio na sexta (24) de que a atividade industrial estava caindo no mês de julho.

"Há relação estreita entre perspectiva de desempenho de empresas e evolução de PIB, e a baixa sinaliza que os chineses dificilmente crescerão mais do que 6,5% em 2015 e 5,5% em 2016", afirmou Fábio Silveira, sócio da consultoria GO Associados.

O governo chinês prevê expansão de 7% este ano. Em 2014, a economia chinesa cresceu 7,4%.

A queda brusca do preços das ações forçou o governo a renovar seu pacote de intervenção, anunciando que comprará mais papéis para evitar "riscos sistêmicos". Os papéis de mais de 1.700 empresas registraram queda de 10%, que é o limite diário. Ações de só 78 subiram.

Nas últimas semanas, a China vinha se empenhando em conter a desvalorização das Bolsas com medidas como a proibição de novas ofertas públicas e apoio financeiro para compra de ações. Mesmo assim, desde 12 de junho, as empresas listadas do país já perderam mais de US$ 3 trilhões em valor.

"O mercado se sente desamparado por informações desencontradas. Será que o banco central chinês já fez tudo o que poderia?", disse Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.

DÓLAR

Dólar

Em busca de investimentos mais seguros, os investidores correram para comprar dólares. Com isso, o preço da moeda disparou.

O real, que já vinha em baixa, sofreu ainda mais. Foi a quarta moeda que mais se desvalorizou entre 24 economias emergentes.

"O dólar mudou de patamar. Voltar à cotação de R$ 3,20 será muito difícil", afirmou Eduardo Velho, economista-chefe da gestora INVX.

O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse que o país não pretende usar as reservas internacionais para conter a alta do dólar.

A BOLSA CHINESA E O DÓLAR NO BRASIL

1. O que há com as ações chinesas?

Depois de subirem mais de 150% em 12 meses, os papéis passaram a cair fortemente em junho. Após uma pausa de 20 dias, voltaram a despencar nesta segunda

2. Por que despencaram?

Por um lado, as ações estão ainda sobrevalorizadas, segundo analistas. Indicador recente da indústria mostrou que a economia pode desacelerar um pouco mais. Há também investidores internacionais cautelosos, à espera de decisão do banco central dos EUA sobre juros

3. O governo chinês tem como controlar a queda?

A China já havia restringido a venda de ações e impulsionado sua compra para tentar segurar as cotações e afirmou que tem recursos para evitar uma crise mais ampla

4. Isso afeta o Brasil?

Sim. Os chineses são grandes compradores de petróleo, soja, minério de ferro e outras commodities, e o Brasil pode ser afetado por redução nas exportações e pela queda ainda maior no preço das commodities

5. Por que o dólar subiu?

Em momentos de insegurança, investidores procuram dólares como refúgio, e a procura maior eleva a cotação. O dólar turismo era vendido a até R$ 3,70 nesta segunda (27).


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