Folha de S. Paulo


Grifes descobrem oportunidade de negócios no mês sagrado do Ramadã

New York Times
A
A "Edição Ramadã" da Net-a-Porter, que saudou o Ramadã com uma seleção de roupas e acessórios

Em seu site e em suas lojas de doces finos espalhadas pelo Oriente Médio, a Armani Dolci, de Giorgio Armani, está vendendo uma caixa de chocolates finos recheados de tâmaras e mel.

O gesto não é nada comparado ao de Monique Lhuillier, que, no site Moda Operandi, oferece uma seleção de caftans (túnicas longas), incluindo um modelo branco virginal bordado com cascatas de flores do campo.

A iniciativa da Armani tampouco se compara à da maison Tommy Hilfiger, cuja minicoleção de 11 peças, disponível em lojas Hilfiger em todo o Oriente Médio, incorpora tentações como um vestido de noite de cetim negro e gola drapeada ou um vestido azul-esverdeado de mangas longas, com fenda levemente indecorosa do pé ao joelho.

Hilfiger é o mais recente de um punhado de estilistas e lojas que procuram lucrar com o Ramadã, o mês mais sagrado do calendário lunar islâmico (neste ano, o Ramadã termina em 17 de julho).

Época de jejum e contemplação durante o dia, que se alternam com noites marcadas por encontros festivos de familiares e amigos, nos últimos anos o Ramadã emergiu como um mês de gastos extravagantes que, para alguns, só se compara à época do Natal.

Em 2012, a empresa de pesquisas de mercado Euromonitor International, de Londres, já tinha tomado nota: "Como o Natal, o contexto religioso é uma razão para familiares e amigos se reunirem. É provável que a figura do 'consumidor do Ramadã' emerja como fenômeno global, como é o caso do consumidor do Natal".

Essa ideia não passou despercebida pela Net-a-Porter, que saudou a chegada do mês com o anúncio on-line de uma "Edição do Ramadã", com duas modelos loiras fazendo poses glamurosas em trajes longos contra um pano de fundo de terra ressequida.

A aposta foi ousada. "É a primeira vez que falamos tão diretamente do Ramadã", comentou Holly Russell, compradora sênior de prêt-à-porter da Net-a-Porter.

Esses apelos a um segmento endinheirado da comunidade muçulmana raramente foram tão diretos e inequívocos.

Outros gestos têm sido mais discretos. Mesmo empresas como a Hilfiger e a DKNY, que lançou uma coleção especial de Ramadã pelo segundo ano consecutivo, mal chegaram a tocar a superfície do mercado. Suas linhas limitadas são vendidas exclusivamente no Oriente Médio.

Segundo estudo divulgado no ano passado pelo Consórcio de Consumidores Muçulmanos Americanos, existem 2 bilhões de muçulmanos no mundo. Sabiha Ansari, uma das fundadoras do grupo, calcula o poder de compra da comunidade muçulmana apenas dos EUA em US$ 100 bilhões. Ela espera que os varejistas reconheçam os muçulmanos como força econômica.

O influxo anual de consumidores do Oriente Médio em Londres já foi apelidado de "o rush do Ramadã". "Não é de hoje que o Ramadã é um segredo bem guardado por todas as grandes lojas", comentou Ed Burstell, diretor gerente da filial londrina da Liberty.

Muitas muçulmanas se dispõem a gastar entre US$ 300 e alguns milhares de dólares em uma única visita a uma loja física ou on-line, deixando suas "abayas" (vestidos negros longos usados sobre outras roupas) e burcas temporariamente de lado para comprar caftans bordados, vestidos coloridos, casacos soltos e acessórios para usar à noite e durante o Eid al-Fitr, festa de três dias que marca o fim do Ramadã.

As lojas Neiman Marcus ainda não estão cortejando os consumidores muçulmanos abertamente, mas uma porta-voz da empresa, Ginger Reeder, comentou que, durante uma reunião que discutiu o calendário de promoções, "o Ramadã foi mencionado como uma oportunidade que precisamos conhecer melhor".

O Ramadã é um tempo de dar presentes, algo que inclui a moda, mas não se limita a ela? "Precisamos pesquisar mais a fundo para descobrir quais são as oportunidades", disse Reeder.


Endereço da página: