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Preço dos alimentos e bebidas acelera em maio e ajuda a puxar a inflação

Joel Silva/Folhapress
Supermercado em São Paulo; setor de alimentos e bebidas impactou a inflação em maio
Supermercado em São Paulo; setor de alimentos e bebidas impactou a inflação em maio

Responsáveis por 25% das despesas das famílias brasileiras, os alimentos e bebidas contribuíram, ao lado da energia elétrica, para a aceleração da inflação em maio.

Os preços do grupo cresceram 1,37% no mês, maior alta para o mês desde 2008 (1,95%), informou o IBGE nesta quarta-feira (10).

Alimentos e bebidas responderam, dessa forma, por 0,34 ponto percentual da alta de 0,74% do IPCA no mês, o maior dos nove grupos pesquisados pelo IBGE.

Individualmente, a energia elétrica teve o maior impacto no índice no mês, de 0,11 ponto percentual.

Em 12 meses, os alimentos ficaram 8,80% mais caros, acima da inflação oficial medida pelo IPCA, de 8,47% no período.

No ano, o avanço acumulado do grupo é de 5,94%, também acima do IPCA, de 5,34% no período.

O avanço é explicado por problemas climáticos, que afetam produtos in natura, além da influência do dólar sobre insumos (como do trigo e fertilizantes) e as exportações.

Inflação por setor - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

Um dos destaques é a cebola, com inflação de 35,59% em maio e de 100,45% no ano. Logo atrás vem o tomate, com alta de 21,38% no mês e 80,42% no ano.

Neste caso, o avanço é explicado pelo clima. Segundo a coordenadora dos índices de preço do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, as chuvas têm gerado umidade e praga no campo.

"Os produtores têm comentado que o custo para combater essas bactérias é caro e o custo acaba aumentando. É oferta menor, com custo maior", explicou Eulina.

Outro destaque é a carne. Os preços avançaram 2,32% no mês e de 4,43% no ano. O consumo interno da carne não está alto, mas a oferta ficou restrita no mercado internacional.

"O produtor acaba exportando mais. Além disso, o clima não está ajudando os pastos, o que afeta a oferta de carne", explicou a coordenadora.

O dólar também influencia o aumento de preços de alimentos. É o caso do pãozinho (pão francês), afetado pelo preço do trigo, que é importado pelo Brasil.

Em maio, o preço do pãozinho aumentou 1,60% e acumulou 5,72% no ano, também acima do IPCA "cheio" no período.

Dos alimentos com preços em queda, a mandioca encolheu 5,09% no mês, apesar de ainda ter alta de 1,07% no ano. Ovos caíram 4,17%, mais ainda sobem 13,33%.

Praticamente todas as regiões tiveram alta em alimentos e bebidas, incluindo Brasília (2,30%), São Palo (1,73%) e Rio de Janeiro (1,13%).

Inflação - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

PREVISÕES

Com a maior pressão dos preços alimentos e da energia em maio, os economistas e analistas de bancos e gestoras começam a rever —para cima- – suas previsões para a inflação de 2015.

Para prever a inflação do mês, bancos e gestoras contratam serviços de coletas de preços de produtos nos supermercados. Essas coletas indicam que os alimentos seguem em alta no início de junho.

"Os números continuam vindo fortes. É preciso acompanhar o restante do mês para ver se vai ter alguma mudança, mas as expectativas estão em mais pressão", disse Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos.

Solange esperava a inflação oficial, medida pelo IPCA, em 0,58% em maio. O IBGE divulgou nesta quarta-feira (10) que os preços subiram mais do que isso, em 0,74% no mês.

Com o resultado de maio e os números das coletas, Solange aumentou sua expectativa para a inflação em 2015 de 8,9% para 9%.

Flávio Serrano, economista do Banco Espírito Santo, diz que o desempenho dos alimentos chamou a atenção porque maio é um mês em que tipicamente esses produtos têm uma desaceleração de preços.

No ano passado, o grupo alimentos e bebidas desacelerou de 1,19% em abril para 0,58% em maio. E teve deflação (queda de preços) em junho (-0,11%) e julho (-0,15%).

"Em maio deveríamos ter visto menor pressão em frutas, legumes e verduras. Mas os preços dos alimentos em geral aceleraram de 0,97% para 1,37%", disse Serrano, que elevou sua previsão de inflação em 2015 de 8,4% para 8,7%.


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