Divergências quanto ao tom do anúncio e o tamanho do corte nas despesas do governo fizeram o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não comparecer à divulgação oficial do bloqueio de R$ 69,9 bilhões no Orçamento.
O titular da Fazenda tradicionalmente é o principal personagem desse tipo de evento, mas Levy, segundo a Folha apurou, preferiu "marcar posição".
O Ministério da Fazenda informou que o ministro não compareceu ao evento pelo "único" motivo de estar resfriado. Mas, nos bastidores, a informação era a de que o chefe da equipe econômica, que passou os últimos meses negociando os temos do ajuste fiscal, foi voto vencido na discussão sobre a mensagem que seria dada à imprensa.
Ele defendia que se expusesse um cenário mais "sombrio" sobre a situação do caixa do governo, indicando que há o risco real de ser necessário fazer uma reavaliação das receitas do governo.
Sua ausência fez com que o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, fizesse sozinho a apresentação dos cortes aos jornalistas.
Em um flagrante de que a falta à solenidade não era esperada, uma plaquinha com seu nome figurava sobre a mesa da sala de entrevista minutos antes do anúncio.
PISO
Levy nos últimos dias chegou a afirmar que "o piso" para o contingenciamento de gastos era de R$ 70 bilhões –a Fazenda, a propósito, propôs um número mais próximo a R$ 80 bilhões.
Reservadamente, auxiliares presidenciais avaliaram que, do ponto de vista fiscal, não há diferença em relação aos R$ 69,9 bilhões anunciados por Barbosa. O próprio Levy concorda que o tamanho do bloqueio é forte.
Entretanto, do ponto de vista simbólico, foi passada a mensagem de que seu número não vingou.
"Não leiam isso como mais que uma gripe", tentou justificar Nelson Barbosa na coletiva de imprensa. Levy acompanhou o anúncio de seu gabinete, a poucos metros dali.
DILMA COM LULA
Antes do anúncio do corte, a presidente Dilma se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília por quase cinco horas na Granja do Torto.
Esse foi o segundo encontro entre Dilma e Lula em uma semana. Segundo a Folha apurou, Lula falou sobre o impacto social e econômico do corte, que preocupa o ex-presidente pois atinge programas que sempre foram marcas petistas.
Apesar das críticas, foi feito um balanço de que "o pior já passou" e que, a partir do segundo semestre, a presidente precisa entrar em uma agenda positiva e retomar aparições públicas.