Folha de S. Paulo


Para marcar posição, ministro não vai a anúncio do corte do Orçamento

Pedro Ladeira/Folhapress
Ministro Joaquim Levy (Fazenda) não participa de coletiva de anúncio de corte no Orçamento
Ministro Joaquim Levy (Fazenda) não participa de coletiva de anúncio de corte no Orçamento

Divergências quanto ao tom do anúncio e o tamanho do corte nas despesas do governo fizeram o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não comparecer à divulgação oficial do bloqueio de R$ 69,9 bilhões no Orçamento.

O titular da Fazenda tradicionalmente é o principal personagem desse tipo de evento, mas Levy, segundo a Folha apurou, preferiu "marcar posição".

O Ministério da Fazenda informou que o ministro não compareceu ao evento pelo "único" motivo de estar resfriado. Mas, nos bastidores, a informação era a de que o chefe da equipe econômica, que passou os últimos meses negociando os temos do ajuste fiscal, foi voto vencido na discussão sobre a mensagem que seria dada à imprensa.

Ele defendia que se expusesse um cenário mais "sombrio" sobre a situação do caixa do governo, indicando que há o risco real de ser necessário fazer uma reavaliação das receitas do governo.

Sua ausência fez com que o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, fizesse sozinho a apresentação dos cortes aos jornalistas.

Em um flagrante de que a falta à solenidade não era esperada, uma plaquinha com seu nome figurava sobre a mesa da sala de entrevista minutos antes do anúncio.

PISO

Levy nos últimos dias chegou a afirmar que "o piso" para o contingenciamento de gastos era de R$ 70 bilhões –a Fazenda, a propósito, propôs um número mais próximo a R$ 80 bilhões.

Reservadamente, auxiliares presidenciais avaliaram que, do ponto de vista fiscal, não há diferença em relação aos R$ 69,9 bilhões anunciados por Barbosa. O próprio Levy concorda que o tamanho do bloqueio é forte.

Entretanto, do ponto de vista simbólico, foi passada a mensagem de que seu número não vingou.

"Não leiam isso como mais que uma gripe", tentou justificar Nelson Barbosa na coletiva de imprensa. Levy acompanhou o anúncio de seu gabinete, a poucos metros dali.

DILMA COM LULA

Antes do anúncio do corte, a presidente Dilma se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília por quase cinco horas na Granja do Torto.

Esse foi o segundo encontro entre Dilma e Lula em uma semana. Segundo a Folha apurou, Lula falou sobre o impacto social e econômico do corte, que preocupa o ex-presidente pois atinge programas que sempre foram marcas petistas.

Apesar das críticas, foi feito um balanço de que "o pior já passou" e que, a partir do segundo semestre, a presidente precisa entrar em uma agenda positiva e retomar aparições públicas.


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