Folha de S. Paulo


Ministros se queixam de indefinição e paralisia das ações do governo

A equipe da presidente Dilma Rousseff está insatisfeita com o estado de "paralisia" da maior parte das ações do governo nestes primeiros quatro meses, provocada pela indefinição sobre o tamanho dos cortes que a equipe econômica fará no Orçamento Geral da União.

A Folha conversou reservadamente com quatro ministros ligados a áreas com projetos de investimentos. Todos se queixam da demora da presidente em definir os cortes e ponderam que não é possível fazer nenhum tipo de planejamento sem saber que verba terão.

Um deles desabafou, pedindo anonimato para não virar alvo de críticas da chefe. "Estamos em maio, e tudo o que eu faço é mandar pagar as despesas obrigatórias. Sei que o dinheiro será curto, mas sabendo quanto terei posso definir pelo menos alguma prioridade para ajudar a presidente", afirmou ele.

Um outro ministro reclamou que a indefinição não afeta apenas projetos de responsabilidade só do governo, mas também do setor privado. Ele dá como exemplo um programa de um colega de Esplanada, o Minha Casa, Minha Vida, do ministro Gilberto Kassab (Cidades).

CONSTRUÇÃO

Empresas da construção civil estão sendo obrigadas a demitir empregados porque não têm uma definição sobre a próxima etapa do programa. A reportagem conversou com um empresário do setor, que foi na mesma linha dos ministros da presidente.

Segundo ele, o governo está parado à espera de uma definição sobre quanto cada ministério terá para gastar. São poucos os ministros que têm o que investir, normalmente muito pouco e de decisões do ano passado, reclama.

Enquanto isso, desabafa o empresário, o país está desacelerando fortemente. Ele tem avaliação semelhante à de alguns auxiliares da presidente: ela costuma demorar muito para tomar algumas decisões, o que acaba afetando o ritmo do governo.

Os ministros estão sendo informados de que Dilma ainda não definiu o tamanho do corte porque, antes, quer ter uma dimensão do que poderá ser obtido, de fato, com o pacote fiscal –o que depende das votações das medidas no Congresso, que já reduziu a economia de gastos em mais de R$ 3 bilhões.

Além disso, o Orçamento da União só foi aprovado em março e sancionado em abril, atrasando a definição do chamado contingenciamento, que é o bloqueio de gastos que o governo costuma fazer para cumprir sua meta de superavit primário –a economia de gastos para pagamento de juros da dívida pública.

O governo tem prazo para definir o bloqueio dos gastos até o dia 22 de maio. Dentro do governo, três valores são citados como possibilidades.

A área política defende um corte de R$ 60 bilhões. Mas a equipe econômica fala em algo entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões. Um assessor diz que a equipe de Joaquim Levy (Fazenda) fala no corte mais elevado para mostrar a necessidade de aprovar as medidas do ajuste fiscal.

Por enquanto, a presidente só tem dito que sua disposição é promover um "corte grande" e "expressivo" para sinalizar que seu governo está comprometido com o reequilíbrio das contas públicas, que fecharam no vermelho no último ano do seu primeiro mandato –gerando inflação e aumento da dívida.

Evaristo Sá/AFP
A presidente Dilma Rousseff em cerimônia oficial em Brasília
A presidente Dilma Rousseff em cerimônia oficial em Brasília

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