Folha de S. Paulo


Pré-sal levará Brasil a exportar energia em 20 anos, diz economista da BP

Economista-chefe da BP, Spencer Dale diz que a produção de petróleo do pré-sal levará o Brasil a ser exportador de energia ao fim de 20 anos, mas a previsão pode ser revista, se a empresa não conseguir aumentar o ritmo de extração como prometido.

Em entrevista à Folha, Dale explica que o crescimento da produção do pré-sal [de 184 mil para 666 mil barris por dia, segundo Petrobras], em 2014, levou BP a rever para cima a expectativa de crescimento de produção de energia mais do que previsto ano passado.

Em fevereiro, a BP lançou o já tradicional, no setor de energia, Energy Outlook 2015, que analisa as principais tendências nos mercados de energia em todo o mundo, considerando todas as fontes –petróleo, gás, carvão, renováveis– e as emissões de gás carbônico por esse mercado.

Segundo a BP, em 2035 o Brasil vai ter uma exportação líquida de óleo de 1 a 1,5 milhão de barris por dia.

A empresa é a sétima maior empresa de petróleo e gás do mundo, segundo a revista Forbes.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Divulgação
O economista-chefe da BP, Spencer Dale
O economista-chefe da BP, Spencer Dale

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Folha - Dado que a Petrobras enfrenta uma crise financeira que traz preocupações sobre a capacidade de aumentar a produção de óleo, como a produção de energia no país vai crescer 115% até 2035, como a BP prevê, mais do que havia previsto ano passado?

Spencer Dale - Esse crescimento se deve à maior produção de óleo, 134%, gás natural, 152%, energia nuclear, 97% e renováveis, 183%. Muito do crescimento em petróleo virá das formações do pré-sal, onde avança mais rapidamente. Previmos esse crescimento com base no forte crescimento no ano passado [quando a produção de óleo da Petrobras avançou 5,3% no Brasil].

A BP prevê que o Brasil exportará energia em 2035. Quais serão os principais mercados? A exportação será de óleo e gás? A crise da Petrobras é uma ameaça?

Como a oferta crescerá 3,9% por ano, e a demanda, 2,9%, significa que o Brasil será exportador líquido de óleo. Em 2035, será algo entre 1 e 1,5 milhão de barris por dia. Não podemos dizer quem comprará, nesse mercado global. Qualquer coisa que ameace a capacidade da Petrobras de entregar projetos é um risco potencial às expectativas, que refletem nossas previsões de resultado mais provável.

Quais são os principais vetores do consumo de energia no mundo, nos próximos 20 anos? Isso vale também para o consumo mundial de petróleo? Por que a Ásia vai responder pela maior parte desse crescimento?

Os principais vetores são o crescimento da população e da renda, tanto para energia quanto especificamente para petróleo. Ásia responderá pela maior parte do crescimento porque será onde veremos o maior crescimento em PIB real.

Comparando com as expectativas em outros países, sejam membros ou não membros da OCDE [Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico] como o senhor definiria a posição do Brasil no mercado mundial de energia, como produtor e consumidor?

O Brasil é um dos maiores produtores e consumidores de energia. Em termos de taxas de crescimento, o país crescerá mais rápido do que a média dos não-OCDE, tanto na produção quanto no consumo de energia. Brasil se destaca por ter uma parcela relativamente alta de combustíveis não fósseis –42% em 2013, crescendo para 48% até 2035.

Como o desabamento do preço no barril de petróleo pode mudar a geopolítica mundial? Qual é o piso de preço da cotação do barril sustentável, de acordo com o fornecimento e demanda por óleo e também com a atividade econômica?

O impacto do preço na geopolítica vai além do escopo do Energy Outlook. Claramente estamos em um tempo de incremento de riscos geopolíticos, e isso é uma fonte de incerteza que destacamos no Outlook. Ninguém sabe com certeza qual é o piso desse preço. Até que a gente veja como a oferta e demanda ajusta-se aos movimentos recentes, não seria sábio tentar prever quanto além o preço pode cair.

Quais desafios aparecem para o Brasil nesse ambiente, por si só, e quando consideramos a crise da estatal brasileira de petróleo?

Como todos os produtores de petróleo e energia, o Brasil vai precisar adaptar-se aos preços baixos, o que significa atacar custos e eficiência através da cadeia de suprimentos.

A queda no preço do petróleo (de US$ 110 em julho para US$ 60 atualmente) começou a ferir algumas petroleiras novas nos Estados Unidos, especializadas em extrair o "tight oil" e "shale gas" (respectivamente, óleo e gás extraídos de reservas de xisto). Essa indústria vai resistir? Caso não, isso pode alterar o equilíbrio da oferta como isso alteraria o equilíbrio entre oferta e demanda no mundo, uma vez que tais reservas estavam levando o país à autossuficiência?

A indústria americana é muito competitiva e inovadora. Não há dúvida de que vá se adaptar a qualquer ambiente. O crescimento dessa produção vai desacelerar, mas dificilmente cairá de forma substancial.

O senhor crê que a queda no preço do óleo revela o quão fraca se tornou a Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo), que reúne 12 países produtores no Oriente Médio, África e a Venezuela?

O foco do Outlook são as tendências de longo prazo, no qual vemos a instituição continuando a contribuir para uma grande participação na produção de óleo, então continua sendo um grande ator.

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PERFIL BP
Origem: Reino Unido
Presença: 80 países
Funcionários: 85 mil no mundo; 7 mil no Brasil
Receita: US$ 353 bilhões (queda de 7% ante 2013)
Lucro: US$ 4 bilhões (queda de 83% ante 2013)
BP no Brasil: Presente nos segmentos de Exploração e Produção, combustíveis, lubrificantes e energia renovável

Spencer Dale
Economista-chefe da BP
Nacionalidade: Britânico
Idade: 47
Formação: Mestre em Economia pela University of Warwick; graduado pela University of Wales
Carreira: Antes da BP, foi economista-chefe do Bank of England e membro do Comitê de Política Monetária da instituição


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