Folha de S. Paulo


Inspirado pela filha, casal cria sapato infantil e exporta até para famosas

A mudança para começar a vida de casados no Brasil, um par de sapatinhos duros e pais obcecados por encontrar uma solução mais confortável para os pezinhos da filha recém-nascida.

Essa foi a receita para a criação da empresa Tip Toey Joey, que produz calçados infantis no interior de SP e os exporta para nove países, entre eles EUA, Austrália, Coreia do Sul, Espanha e Suíça.

Ana Cláudia McInerney, 47, fundadora da empresa com o marido, Scott McInerney, 44, conta que a primeira filha do casal, Sofia, hoje com 13 anos, foi a inspiração para começarem o negócio.

Formada em marketing, ela conheceu o marido, administrador contábil australiano, quando estudava em Londres. Voltou para sua cidade natal, Franca (SP), em 2001, para ter o bebê.

Divulgação
Ana Cláudia McInerney, que fundou com o marido, Scott McInerney, a empresa de calçados infantis Tip Toey Joey, inspirada na filha recém-nascida
Ana Cláudia McInerney, que fundou com o marido, Scott, a empresa de calçados infantis Tip Toey Joey

O casal não sabia onde iria morar nem qual seria sua ocupação dali para frente, mas queria algo que os permitisse dividir o tempo entre o Brasil e a Austrália.

Até que um sapatinho lindo e duro que Sofia ganhou de presente de uma amiga londrina de Ana ajudou na descoberta: diante do desconforto que o acessório causaria, Scott não deixou a bebê calçá-lo, conta Ana.

"O contador virou designer. Começou a olhar o pezinho da Sofia e a estudar como ela pisava. Fez uns carimbos pintando o pé dela, fazia ela pisar no papel e estudava o resultado, tudo buscando algo que desse conforto", diz.

Para chegar ao produto ideal, aproveitaram o potencial da cidade na confecção de itens de couro. Scott estudou estilismo, design de sapatos e manufatura.

Testou vários sapatos que não pararam no pé de Sofia até chegar a uma versão 100% de couro macio, com elástico na traseira para não escorregar do pé do bebê.

PRODUTO EXPORTAÇÃO

Com o produto ideal desenhado, os empresários decidiram aproveitar o dólar valorizado, na época acima de R$ 3,80, e começar as vendas pelo mercado externo.

Scott viajou para Austrália e, batendo de porta em porta, voltou com 3.000 encomendas dos primeiros pares.

Eles foram produzidos com empresas terceirizadas. Mas já em 2005 a companhia partiu para sua fábrica própria, para ter maior controle sobre a qualidade, conta Ana.

A empresa também não trabalha com representantes comerciais e vende diretamente às lojas multimarcas que os comercializam. Isso ajuda a empresa a controlar melhor o preço, mesmo com matéria-prima e mão de obra cara, afirma. Um par custa, em média, R$ 135.

Eles têm planos, ainda sem prazo definido, de iniciar rede de lojas próprias.

Iniciadas em 2006, as vendas no mercado brasileiro correspondem hoje a 80% do volume total.

Segundo Ana, a qualidade dos itens é crucial para competir internacionalmente. Os sapatos são vendidos em 600 lojas multimarcas no Brasil e 200 no exterior.

"A maior parte da manufatura do Brasil fica no meio do caminho. Ela não tem um preço de fabricação competitivo com a China e a Índia, nem o valor agregado dos produtos de países desenvolvidos."

Trabalham na Tip Toey Joey 300 funcionários, 250 deles na fábrica de 1.800 metros quadrados.

A empresa produz 1.500 pares por dia e possui modelos para crianças de 0 a 8 anos. Eles não revelam seu faturamento.

Os sapatos de couro já foram comprados por mães famosas, como a atriz de Hollywood Jessica Alba.

Mas os pezinhos de Sofia, que ajudaram a chegar ao modelo ideal, pouco aproveitaram a novidade. "Ela esteve sempre a frente dos produtos. Sempre que lançávamos uma linha nova, os sapatos não serviam mais nela", conta Ana.


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