Folha de S. Paulo


Kodak ressurge e vê futuro em tecnologia e em novos químicos

Dos cerca de 200 edifícios que um dia ocuparam o complexo de 520 hectares da Eastman Kodak em Rochester, Nova York, 80 foram demolidos e outros 59 vendidos.

Funcionário leal da empresa há 34 anos, Terry Taber, 60, continua a trabalhar em um deles, ainda que o entulho das demolições esteja bem perto de suas portas.

Taber é o comandante das operações de pesquisa e desenvolvimento da Kodak.

Nathaniel Brooks/The New York Times
Cientistas com a tela sensível ao toque que desenvolveram
Cientistas com a tela sensível ao toque que desenvolveram

Muita gente pode se surpreender ao descobrir que a empresa continua operando, quanto mais que esteja empregando pessoas encarregadas de tarefas como o desenvolvimento de novas ideias tecnológicas.

Mas, se a fabricante de filmes, que saiu da concordata em 2013, verá alguma luz em seu futuro, é provável que Taber venha a ter alguma responsabilidade por isso.

Em um labirinto de laboratórios de pesquisa no subsolo do edifício, alguns dos 300 cientistas e engenheiros comandados por Taber estão estudando tintas futuristas feitas de nanopartículas, sensores baratos que podem ser incorporados a embalagens para determinar se remédios ou carnes estão vencidos e telas de toque capazes de tornar os smartphones mais baratos.

Boa parte disso é coisa velha, legada do passado glorioso da empresa. Mas o chefe de Taber espera que algum desses projetos possa se provar uma mina de ouro. "Estou garimpando a história da companhia e das tecnologias que embasavam suas operações", disse Jeff Clarke, 53, que se tornou presidente-executivo no ano passado.

A companhia está tentando transformar o talento que lhe resta nos segmentos de óptica e química em dinheiro em outros setores.

Para a empresa, o advento da fotografia digital foi ruinoso. Hoje, ela registra vendas anuais de US$ 2 bilhões, ante US$ 19 bilhões em 1990, quando o filme fotográfico era seu grande negócio. Agora, ela conta com 8.000 funcionários em todo o mundo, ante um pico de 145 mil.

Desde que saiu da concordata, a empresa vem atendendo principalmente a nichos do mercado cinematográfico e fornece equipamentos para impressão de jornais e de embalagens.

Para o novo presidente-executivo da Kodak, a chave da sobrevivência está no legado de pesquisa, nas milhares de patentes que acumulou e no grupo de cientistas que ainda mantém.

No laboratório de pesquisa, um sistema a laser imprime uma malha de 256 fios prateados com pouco mais de 10 milésimos de centímetro de largura. Essa tecnologia será usada para uma nova espécie de tela para celular, mais barata e mais útil que as telas de toque atuais. É um trabalho do qual Taber e sua veterana equipe estão claramente orgulhosos.

Com cerca de US$ 750 milhões em caixa, prejuízo líquido de US$ 114 milhões em 2014 e a possibilidade de novo prejuízo este ano, a empresa precisa encontrar parceiros para ajudar a desenvolver e vender o que Clarke acredita que a Kodak possa criar.

Em 2013, a Kodak vendeu 1.100 patentes relacionadas a captura digital de imagens a um grupo de 12 companhias, entre as quais Apple, Samsung e Facebook, por US$ 527 milhões. Reteve o mesmo acesso que os compradores às patentes, caso deseje voltar a concorrer no ramo fotográfico, por exemplo. E manteve 7.000 outras patentes, a maioria relacionada a processos químicos e físicos de criação de imagens, que o mercado avalia como de valor relativamente baixo.

*

ONTEM, HOJE E AMANHÃ (?)

Como a Kodak já foi...
200 edifícios
520 hectares
vendas de US$ 19 bilhões em 1990
145 mil funcionários
8.100 patentes

... como está hoje...
161 edifícios
300 pesquisadores
vendas anuais de US$ 2 bilhões
8.000 funcionários
US$ 750 milhões em caixa
prejuízo líquido de US$ 114 milhões em 2014
7.000 patentes

... e como quer ficar
Reverter o prejuízo explorando invenções como:
tela para celular mais barata e com mais recursos
embalagens que avisam se o produto venceu
tintas especiais


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