Folha de S. Paulo


Setor automotivo tem o pior mês de fevereiro em oito anos

Dados apresentados nesta segunda-feira (03) pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) revisam para baixo a expectativa de crescimento da indústria automotiva em 2015.

O mês de fevereiro foi considerado o pior do setor desde 2008, que encerrou em queda de 27% em relação a janeiro.

Ao todo, foram licenciados em fevereiro 178.822 automóveis, em comparação com os 243.895 veículos novos emplacados no primeiro mês em 2015.

Além disso, em função do feriado de Carnaval, o mês fevereiro dispôs de menos dias úteis, o que reduziu a atividade comercial, segundo o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Jr.

Com esses dados, a entidade espera uma queda maior nas vendas de carros zero quilômetro para todo o ano de 2015. A previsão anterior, que era de 0,5%, agora chega é de 10%.

CAMINHÕES

A indústria de caminhões e ônibus também sofreu baixas em fevereiro. A variação negativa entre os dois primeiros meses do ano é de 28%.

A venda de caminhões caiu 32,64% em relação a do mês anterior e reduziu pela metade se comparada com a de fevereiro de 2014.

Sozinha, a venda de ônibus recuou 11,71% na comparação com a do mês de janeiro. Ante fevereiro de 2014, o recuo é de 35,64%

MOTOS

A Fenabrave também aumentou a projeção de queda nas vendas de motos em todo o país para 2014. A estimativa inicial era uma redução de 0,2%, agora é de 7,5%.

Nos dois primeiros meses do ano passado, 253.163 motos foram comercializadas, enquanto o acumulado de 2015 já registra queda de 20%.

CRISE

Assumpção atribui a previsão pessimista à economia "quase em coma" do Brasil. Para ele, as medidas de ajuste fiscal, que vêm sendo anunciadas pelo governo desde o fim do ano passado, aliadas ao aumento da taxa de juros e da inflação, assim como a redução da oferta de crédito, "derrubam qualquer expectativa".

"Os bancos estão se retraindo com a projeção de desemprego", disse ele. A projeção a que o presidente da Fenabrave se refere é a apresentada pela economista Tereza Fernandez, da MB Associados, durante a coletiva da Fenabrave.

Entre os fatores macroeconômicos que ajudam a explicar o pessimismo da indústria como um todo, ela destacou a previsão de corte de 660 mil postos de trabalho, esperados para 2015.

Embora o índice de desemprego seja considerado baixo, o mercado observou um aumento significativo de pessoas que começaram o ano sem trabalho.

Em janeiro, a taxa de desemprego bateu 5,3%, o maior índice desde setembro de 2013, segundo o IBGE. Em dezembro, esta taxa era de 4,3%.

RECUPERAÇÃO

"Se não tem crescimento, não tem PIB, a roda não gira", diz o presidente da Fenabrave. Para ele, bons resultados em 2015 dependem basicamente do desempenho econômico do país.

Para tentar incentivar as vendas, a indústria automotiva aposta em novos modelos que chegarão ao mercado brasileiro este ano –entre redesenhos e novos modelos, estão previstas 15 estreias para 2015.

Há também a expectativa de um leve aumento das exportações, impulsionadas pelo câmbio. A venda de equipamentos agrícolas para os Estados Unidos também deve contribuir para este resultado, segundo o presidente da Fenabrave.

O aumento na oferta de crédito também é uma das apostas do setor. Um incentivo para a concessão de novos financiamentos é a nova regra para a recuperação de veículos de clientes inadimplentes, em vigor desde o ano passado que pode diminuir a taxa de juros, e incentivar bancos a liberarem mais financiamentos.

Assumpção reconhece que a medida pode também aumentar a oferta de crédito no mercado, mas ressalta que não se deve depender somente dela.

"A retomada do bem é importante, mas demanda tempo para que os novos financiamentos se adaptem [à nova regra]. Os resultados vão aparecer só no ano que vem, pois precisa de um histórico", afirma.


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