Folha de S. Paulo


Nova regra deve dificultar fugir de impostos com contas em bancos suiços

O mundo dos clientes brasileiros dos bancos suíços se divide em três.

Há quem declare sua fortuna na Suíça ao fisco; há quem ganhe honestamente milhões mas não declare tudo o que tem fora do país (a suposta maioria) e há quem ganhe de forma ilícita, como os suspeitos de envolvimento na Operação Lava Jato, algo mais difícil de contabilizar.

Na Suíça, esconder dinheiro do fisco não é crime nem para cidadãos suíços. E estrangeiros fraudadores do fisco e corruptos navegam nesse universo nebuloso graças a empresas de fachada –algumas, criadas sob orientação dos próprios banqueiros.

Os que têm pouco ou nada a temer abrem contas com o nome. Outros optam por conta numerada: não consta o nome, mas o banco sabe quem é.

Quem tem mais ou muito a esconder opta por contas no nome de sociedades offshore ou de estruturas mais complexas, como de fundações e "trusts" (organizações que administram recursos). Brasileiro não gosta dos "trusts", afirma um banqueiro, porque não pode controlar o dinheiro.

Mas se esconder por trás disso logo não será possível, afirmam alguns.

A partir de 2018, numa decisão que já revoluciona bancos no país, a Suíça passará a trocar automaticamente informações sobre contas com 57 países. Se assinar um dia um acordo com o Brasil, muitos brasileiros com conta no país poderão ser fisgados.

Sob ataque de autoridades americanas e europeias, a Suíça já vinha amargando perdas.

O UBS, por exemplo, foi multado pelos EUA em € 800 milhões por ter ajudado seus clientes americanos a escaparem do fisco.
Jean-Christian Lambelet, professor da Universidade de Lausanne e autor do livro "Quem Matou o Segredo Bancário", não se arrisca a prever o que pode acontecer quando começar a troca automática de informações bancárias. "Os bancos suíços se dizem otimistas, porque pensam que poderão sobreviver sem os clientes da evasão fiscal", diz ele.

Lambelet admite que "houve excessos", mas afirma que a praça financeira suíça está bem mais limpa hoje. O fim do segredo, afirma, "não vai ser o fim do mundo".

O professor usa o mesmo argumento da Associação Suíça de Bancos (ASB), quando diz que a força da Suíça é oferecer aos milionários estrangeiros o que um Panamá não consegue: país e moeda estáveis, organização e eficácia.

O que está em jogo não é pouco. Os 283 bancos operando hoje na Suíça têm US$ 6,1 trilhões de ativos em gestão, dos quais 51% do estrangeiro –o que faz do país líder mundial no setor, segundo a ASB. Detêm, nada menos, do que 26% da fatia mundial em gestão de ativos.


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