Folha de S. Paulo


Setor de serviços cresce menos que a inflação em 2014

O setor de serviços cresceu 6% em 2014, informou a PMS (Pequisa Mensal de Serviços), divulgada na manhã desta sexta-feira (20) pelo IBGE.

O indicador, que não desconta a inflação do setor no período, foi o menor da série histórica iniciada pelo instituto em 2012, quando o avanço havia sido de 10%. O desempenho do ano passado também foi menor que o verificado em 2013, quando a receita havia crescido 8,5%.

A CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), contudo, afirma que, se descontada a inflação do setor no período, os serviços teriam apresentado queda de 2,5% em 2014 ante o ano anterior.

Teria sido o primeiro resultado anual negativo desde o início da série histórica. Em 2013, o segmento havia ficado estável. Um ano antes, em 2012, a variação havia sido positiva em 1,3%, segundo a CNC.

"São resultados muito ruins se levarmos em conta que os serviços respondem por dois terços da geração de riquezas da economia e por 42% do mercado de trabalho. O que estamos vendo é que a inflação está corroendo o padrão de consumo das famílias. As pessoas estão, muitas vezes inconscientemente, gastando menos com serviços que não são essenciais", disse Fábio Bentes, economista da CNC.

O cálculo da confederação pega o crescimento de 6% da receita nominal do setor e diminui o valor do IPCA de serviços calculado pelo IBGE, que foi de 8,3% em 2014. Dentro da divulgação do IPCA, que mede a inflação oficial do país, o IBGE calcula a inflação do serviços prestados somente às famílias, como alimentação fora de casa, condomínio, médico, hospedagem e cursos.

Ainda que sirva à CNC como um deflator para a pesquisa, a utilização do IPCA de serviços guarda uma distorção, já que a Pesquisa Mensal de Serviços leva em conta serviços prestados não só às famílias, mas também às empresas, como transporte, limpeza e telecomunicações. O IBGE está desenvolvendo um deflator para a pesquisa, que deve ser usado ainda este ano, mas que ainda não tem data definida. O instituto não reconhece o deflator da CNC como o ideal.

Segundo Bentes, apenas com os resultados da receita nominal apurada na pesquisa não dá para fazer um cálculo de quanto o mau desempenho dos serviços terá impacto no PIB de 2014. Seria necessário, por exemplo, saber os custos que incidem no segmento para se chegar ao valor adicionado, que é o quanto de riquezas foram geradas pelo setor. Ele ressalta, contudo, uma preocupação com o ano que se inicia, em que são esperados reajustes de energia e transportes.

"O indicador deflacionado mostra uma queda na receita em 2014, que é o que mostra o arrefecimento do movimento do setor. Preocupa também para 2015, quando sabemos que haverá reajustes nos principais serviços monitorados, como energia elétrica, água e transportes, que são insubstituíveis. As pessoas farão opção, por exemplo, por comer menos fora de casa ou ir menos ao salão de beleza, porque a renda ficará mais apertada", disse Bentes.

Pelos números oficiais da PMS, contribuíram para a alta menos robusta do setor o crescimento do segmento de serviços de informação e comunicação, de 3,4% em 2014. Também contribuiu para o menor crescimento o avanço dos serviços de transporte, transportes auxiliares e correios, cuja receita nominal avançou 6,9% no período. Todos os cinco segmentos do setor apurados pelo IBGE tiveram alta na comparação do acumulado de 2014 em relação ao ano anterior.

"O baixo nível de investimento na economia mostra também essa desaceleração nos segmentos de serviços às empresas".

MENSAL

O resultado para o mês de dezembro em relação ao verificado em igual período de 2013 foi de alta de 4,2% na receita nominal do setor de serviços apurados pela PMS. Assim como o resultado do ano, o crescimento foi o menor verificado nos últimos dois anos, quando a pesquisa começou a ser publicada. Em dezembro de 2013 e 2012, os serviços cresceram 8,3% e 8,7%, respectivamente.

Os dados não consideram a inflação do período. Segundo a CNC, descontada a inflação setorial, os serviços tiveram em dezembro uma queda de 4,1% em relação a igual período. Pelos cálculos da confederação, foi a décima queda real consecutiva do indicador.

De acordo com os dados da PMS, os serviços de comunicação, que tiveram uma queda na receita nominal de 1,2%, foram o único segmento com retração na base de comparação mensal. Ainda que tenha registrado alta na receita– de 4,8%– em dezembro frente a igual período do ano passado, os serviços de transporte, transporte auxiliares e correios foram os que menos cresceram no período.

Os serviços profissionais, administrativos e complementares, prestados por pessoas sob o regime de pessoa jurídica, foram os que mais cresceram no período entre as cinco categorias pesquisas pelo IBGE, tendo registrado alta na receita de 10,9% em dezembro.


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