Folha de S. Paulo


Alemanha diz que pedido grego de extensão de empréstimo é insuficiente

A Grécia solicitou formalmente nesta quinta-feira (19) à zona do euro a prorrogação por seis meses de seu acordo de empréstimo em um esforço para evitar a falta de dinheiro dentro de algumas semanas. O ministério alemão das Finanças rejeitou, no entanto, a proposta de Atenas.

Os ministros das Finanças da zona do euro ainda se reunirão na sexta-feira à tarde, em Bruxelas, para avaliar o pedido, disse o presidente do grupo, Jeroen Dijsselbloem, em um tuíte.

O mais significativo é que o governo grego aceita que a prorrogação seja monitorada pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, um recuo de Tsipras, que prometeu acabar com a cooperação de inspetores, acusados de infligir profundo dano econômico e social à Grécia.

Yannis Behrakis/Reuters
Turista fica sob bandeira grega na Acrópolis, em Atenas; país quer extensão de acordo de empréstimo
Turista fica sob bandeira grega na Acrópolis, em Atenas; Grécia quer extensão de acordo de empréstimo

Para o ministro alemão, no entanto, o pedido não atende às condições definidas pelos parceiros da Grécia na zona do euro. A Alemanha é o principal suporte econômico da UE (União Europeia), e já havia se posicionado no sentido de que o governo grego tem de se ater aos termos de seu atual pacote internacional de resgate.

Com o programa da UE/FMI prestes a expirar dentro de pouco mais de uma semana, o governo do esquerdista primeiro-ministro Alexis Tsipras precisa urgentemente garantir uma tábua de salvação financeira para manter o país à tona a partir de março.

Segundo Martin Jaeger, porta-voz do ministério das Finanças alemão, no entanto, "a carta de Atenas não é uma proposta que leva a uma solução substancial".

No Brasil, a notícia contribuiu para que a Bolsa recuasse da máxima em dois meses.

Apesar de comprometer o novo governo de esquerda a conter boa parte de novas legislações e à "supervisão" por três instituições que inspecionam o resgate –a União Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, para Jager "a carta não atende os critérios acertados pelo Eurogrupo [que reúne ministros das Finanças de países da zona do euro] na segunda-feira".

DOCUMENTO

No documento a que a Reuters teve acesso, a Grécia promete cumprir as suas obrigações financeiras para com todos os credores, reconhecer o programa da UE/FMI existente como uma estrutura legal com a qual está comprometida e abster-se de ação unilateral que prejudique as metas fiscais.

O período de seis meses seria usado para negociar um acordo de longo prazo para a recuperação e o crescimento, incorporando novas medidas de alívio da dívida prometidas pelo Eurogrupo em 2012.

Um funcionário grego disse à Reuters que o governo pediu uma extensão do Acordo Master sobre o Instrumento de Assistência Financeira com a zona euro, mas insistiu que os dirigentes do país estão propondo condições diferentes de suas atuais obrigações de resgate.

"As autoridades gregas honram as obrigações financeiras da Grécia para com todos os seus credores e também expressam nossa intenção de cooperar com nossos parceiros para evitar impedimentos técnicos no contexto do Acordo Master sobre o Instrumento de Assistência Financeira que reconhecemos como obrigatório em relação ao seu conteúdo financeiro e processual", apontou o documento.

Ele informa que o objetivo da extensão de seis meses do programa de resgate é, entre outras coisas, "assegurar, trabalhando de perto com nossos parceiros europeus e internacionais que quaisquer novas medidas sejam totalmente financiadas ao mesmo tempo evitando ações unilaterais que afetariam as metas fiscais, a recuperação econômica e a estabilidade fiscal".

Editoria de arte/Folhapress

EXPECTATIVA

Com o atual acordo de resgate com a zona do euro vencendo em 28 de fevereiro, o primeiro-ministro grego Tsipras disse que as negociações estavam em um estágio crucial e que suas demandas por um fim da austeridade estavam ganhando apoio.

"Ocorreram protestos pela Europa apoiando as ações feitas pela Grécia e nós conseguimos criar pela primeira vez, pelos contatos com os líderes estrangeiros, um balanço positivo em relação a nossas exigências", disse em um encontro televisionado com o presidente Karolos Papoulias.

As ações europeias em bolsas de valores atingiram as maiores altas em anos nesta quarta-feira por conta do crescente otimismo de que um acordo sobre a dívida da Grécia será alcançado até o fim da semana.

Os rendimentos dos bônus do governo grego caíram com força e os rendimentos dos bônus de Espanha, Portugal e Itália também caíram com a redução dos temores de contágio a outros países periféricos da zona do euro.


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