Folha de S. Paulo


Pensar como humano é desafio para 'carro-robô'

O principal desafio tecnológico para o desenvolvimento dos chamados carros autônomos -veículos em desenvolvimento pelas montadoras que não precisarão de motoristas- é fazer a máquina "pensar" como humano em situações cotidianas e "agir" como robô em horas críticas.

A afirmação é do gerente sênior do Centro de Pesquisa da Nissan no Vale do Silício, Gregory Dibb. Ele trabalha na equipe que pretende pôr no mercado o primeiro modelo de carro sem condutor da montadora japonesa até 2020.

O veículo autônomo utiliza um sistema de câmeras e laser que funcionam como uma espécie de radar que mapeia o ambiente a sua volta.

A partir da leitura dos dados e de mapas, a ideia é que o veículo seja conduzido pela máquina, se não em 100% do trajeto, ao menos na maior parte do percurso.

Dibb esteve no Rio na quarta (12) em palestra sobre inovação promovida pela Firjan e conversou com a Folha.

Além de seguir um trajeto predeterminado pelo usuário, o carro autônomo será capaz de reagir a imprevistos. Se o veículo da frente fizer uma parada brusca, por exemplo, o carro irá parar.

Um dos maiores desafios para a equipe da Nissan, diz Dibb, é fazer o carro desviar de pequenos obstáculos. No nível em que está a tecnologia, o carro irá parar diante de um galho de árvore, por exemplo, agindo de forma diferente dos humanos, que desviariam em velocidade baixa.

Um segundo cenário possivelmente problemático seria num cruzamento sem sinais de trânsito, comuns em subúrbios americanos, em que nem sempre está claro quem tem preferência. O que os humanos resolveriam com um aceno poderá ser uma dificuldade para o computador.

Ricardo Borges/Folhapress
Gregory Dibb, gerente sênior do Centro de Pesquisa da montadora Nissan no
Gregory Dibb, gerente sênior do Centro de Pesquisa da montadora Nissan no "Vale do Silício" (Califórnia)

"O próximo passo é fazer a fusão das atividades sociais -humanos se olham, conseguem interpretar um ao outro- com o 'pensamento do robô'. Os computadores precisam ser 'ensinados' a negociar e lidar com as pessoas. Essa é a parte da minúcia da tecnologia que tem sido difícil de programar", disse Dibb.

O carro autônomo fará cálculos mais rápido que os humanos. A máquina não se cansa ou se distrai, o que eleva a segurança. Segundo Dipp, o computador processará 1 GB por segundo de dados coletados ao seu redor.

EVENTOS CLIMÁTICOS

A despeito da sofisticação, os cientistas ainda não conseguiram fazer a tecnologia detectar buracos, neve e chuva. Dibb diz que os carros autônomos usarão um sistema híbrido de tecnologias para perceber eventos climáticos.

"A ideia é que haja uma variedade grande de sensores, trabalhando juntos. Os buracos ainda são um problema."

Já há carros no mercado com o chamado nível 2 de autonomia, que são sensores e câmeras que ajudam o condutor a estacionar ou manter o veículo em linha reta. Mas a maior parte das decisões está nas mãos dos humanos.

O terceiro nível de autonomia é o que está em desenvolvimento, tanto pela Nissan quanto por outras montadoras e também pela Google. A ideia é que a figura do condutor seja quase na totalidade a máquina, ficando o humano responsável por assumir a direção em momentos críticos.

O quarto nível seria composto por veículos fabricados sem volante ou pedal. Algo que, segundo Dibb, a Nissan não persegue ainda. "Nossos modelos ainda colocam o ser humano no comando."


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