Folha de S. Paulo


Minério de ferro cai 21% até setembro

Novos dados sobre o comércio internacional apontam ameaças adicionais à retomada do crescimento econômico do Brasil.

Segundo cálculos da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior), os preços das exportações do país caíram pelo quarto mês consecutivo e atingiram em outubro o menor patamar do governo Dilma Rousseff.

Os números, que deverão ser publicados nesta semana, mostram que a queda é puxada pelos produtos primários minerais e agrícolas -os principais motores da expansão da renda nacional entre 2004 e 2010.

Chamadas de commodities, essas mercadorias acumulam queda de 7% no ano, na comparação com a média de janeiro a outubro de 2013. Elas respondem por 44% das exportações totais, cuja desvalorização é de 4,2%.

"O minério de ferro foi o grande vilão do ano", diz Daiane Santos, economista da Funcex. Até setembro, os preços já haviam caído 21%.

Na soja e no petróleo, outros exemplos importantes, as quedas eram de 4% e 3%.

No surto de alta da década passada, os preços dos produtos básicos exportados pelo país chegaram a subir 41,2% em 2008 -de longe, a maior taxa captada pelas estatísticas iniciadas em 1974.

O ciclo de valorização, um dos mais intensos da história, foi impulsionado pela ascensão da China, que beneficiou o Brasil e os demais exportadores de commodities.

A renda maior se propagou pela economia como um todo. Com mais divisas à disposição, a cotação do dólar caiu, o poder de compra do real aumentou e houve mais consumo e investimentos.

Com uma aguda -mas rapidamente revertida- interrupção em 2009, os preços das exportações subiram até meados de 2011, no primeiro ano do governo Dilma.

De lá para cá, com a crise global e a desaceleração chinesa, a tendência é de queda -sem a ajuda do mercado externo, as fragilidades domésticas são mais evidentes.

Rafael Andrade/Folhapress
Operários trabalham na construção de pier da mineradora Vale no Maranhão, em 2011
Operários trabalham na construção de pier da mineradora Vale no Maranhão, em 2011

O PIB (medida da renda nacional) brasileiro deve ter crescimento perto de zero neste ano. A equipe de Dilma aposta em uma melhora do cenário internacional capaz de reativar o consumo e a renda, mas, no que depender dos preços das commodities, esse cenário é incerto.

Como aponta um trabalho publicado em agosto pelo FMI, as projeções de mercado para preços de metais, alimentos e combustíveis são de baixa até 2019.

Mais otimista, o economista Otaviano Canuto argumentou em artigo publicado em agosto que, historicamente, os ciclos de alta das commodities duraram algo como três ou quatro décadas, e a queda atual pode ser temporária.


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