Folha de S. Paulo


Conexão entre Bolsas de Hong Kong e Xangai estreia em 17 de novembro

A conexão operacional muito aguardada entre as Bolsas de Valores de Hong Kong e Xangai começará a funcionar em 17 de novembro, o que colocará em vigor uma das medidas mais significativas da China para abrir sua conta de capital, nos últimos anos, e porá fim aos temores do mercado quanto a possíveis atrasos longos na implementação do esquema.

As ações em Hong Kong e Xangai saltaram em resposta à notícia da estreia do novo sistema, que pela primeira vez oferecerá a investidores internacionais acesso direto às ações negociadas em Xangai, e permitirá que investidores da China continental adquiram ações das empresas cotadas em Hong Kong.

O atraso com relação à data inicial de lançamento do Stock Connect, marcado para outubro, gerou especulações de que o sistema fosse alvo de disputas políticas na China continental ou tivesse encontrado dificuldades na solução de questões tributárias e técnicas. Na semana passada, CY Leung, o chefe do Executivo regional de Hong Kong, atribuiu o atraso à irritação da China continental quanto aos protestos pela democracia em Hong Kong.

No entanto, na segunda-feira as autoridades regulatórias chinesas e de Hong Kong, unidas às duas Bolsas de Valores, anunciaram a aprovação do lançamento do esquema piloto -anunciado inicialmente em abril pelo primeiro-ministro chinês Li Keqiang- para a semana que vem.

REFLEXO
O índice composto, a referência da Bolsa de Xangai, fechou em alta de 2,5%, enquanto o Hang Seng, o principal índice da Bolsa de Hong Kong, saltou em mais de 2% na abertura mas fechou com alta de apenas 0,8%, sob a influência de tendências mais moderadas em outras áreas. As ações da Hong Kong Exchanges and Clearing, a instituição que controla a Bolsa de Hong Kong, subiram em 4,6%, cimentando a posição da companhia como ação de melhor desempenho no Hang Seng este ano, com alta acumulada de mais de 40%.

"Isso é algo que jamais foi tentado antes", disse Charles Li, presidente-executivo da bolsa de Hong Kong, que comparou o mecanismo estabelecido para lidar com as diferentes regras de mercado e sistemas judiciais a uma tomada adaptadora capaz de operar com voltagens diferentes de eletricidade.

Executivos financeiros declararam, em foro privado, que a preparação para o novo sistema havia sido um dos exercícios mais complexos que eles empreenderam em anos.

AJUSTES
Investidores tanto em um quanto no outro mercado terão de acatar as regras do mercado no qual estejam comprando e vendendo, o que requer uma série de ajustes da parte de administradores de fundos, instituições de custódia e corretores, para garantir que os sistemas funcionem.

Li disse antecipar que as questões quanto ao período incomumente curto de compensação que a China adota sejam resolvidas até o começo do ano que vem. Essencialmente, a China não permite que corretores vendam ações em nome de clientes sem primeiro verificar que os clientes detêm as ações -o que poderia forçar investidores internacionais a vender ações um dia mais tarde do que planejavam, a fim de criar um prazo de verificação.

Embora o mecanismo não deva liberar o acesso ao yuan, a moeda rigidamente controlada da China, ele será o primeiro sistema a permitir que investidores institucionais operem nos mercados da China continental sem requerer aprovação individual de cada um deles, o que é o método em vigor até o momento sob o sistema de Investidor Institucional Estrangeiro Qualificado.

Se o programa piloto do Stock Connect for sucesso, os participantes do mercado esperam que as cotas iniciais venham a ser ampliadas e que mais Bolsas de Valores -e potencialmente produtos- sejam adicionados.

Para as autoridades regulatórias, o esquema também representará um novo estágio de cooperação, que incluirá compartilhamento de dados para ajudar na vigilância de mercados em tempo real dos dois lados da fronteira.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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