Folha de S. Paulo


Maior fabricante de cerveja do Japão está sob pressão para reforçar aquisições

A Asahi, maior fabricante de cerveja do Japão, está sob pressão para reforçar o ritmo de suas aquisições, em um esforço por dobrar suas operações fora do país e desafiar o domínio dos maiores fabricantes mundiais da bebida.

Naoki Izumiya, presidente-executivo do conglomerado de bebidas e alimentos mais conhecido por sua cerveja Asahi Super Dry, disse em entrevista ao "Financial Times" que o tamanho importa, quando o assunto é a concorrência internacional.

"As quatro maiores companhias [do setor cervejeiro, Anheuser-Busch InBev, SABMiller, Heineken e Carlsberg] detêm cerca de 50% das vendas e 80% dos lucros operacionais totais, em plano mundial", ele disse. "Será que o tamanho que nosso grupo tem agora é suficiente para que sobrevivamos? Precisamos ampliar nosso negócio até um dado tamanho. Precisamos, acima e antes de tudo, realizar esforços nesse sentido".

Ainda que a Asahi seja a maior fabricante japonesa de cerveja pelo critério de vendas, e a quinta maior do mundo, seu crescimento no exterior ficou aquém das expectativas da companhia.

Ela também está sob pressão da companhia rival de bebidas Suntory, que se uniu aos líderes mundiais do setor em janeiro depois da tomada de controle da Beam, a companhia norte-americana que produz os uísques da marca Jim Beam, por US$ 16 bilhões.

Izumiya descartou aquisições semelhantes no caso da Asahi, afirmando que preferia se consolidar domesticamente e aproveitar o crescimento do mercado da Ásia por meio de fusões e aquisições que possam atrair o interesse de fabricantes multinacionais de cerveja. A companhia detém 20% de participação na Tsingtao, uma fabricante chinesa de cerveja.

"Ao termos negócios maiores na Ásia, na região da Organização dos Países do Sudeste Asiático (Asean), poderemos concorrer com os maiores fabricantes mundiais, e talvez negociar uma aliança estratégica", ele disse. "É possível seguir o caminho da Suntory e adquirir uma marca grande, recorrendo para isso a grandes empréstimos. Nossa estratégia pode requerer mais tempo, mas com ela seremos capazes de crescer à medida que o mercado cresce".

ABAIXO DA META

Os negócios da Asahi no exterior dobraram nos dois últimos anos, atingindo 192 bilhões de ienes em 2013 –11% de suas vendas totais– graças a fusões e aquisições. Mas isso ainda fica muito abaixo da meta de 20% ou 30% de participação para os negócios internacionais que a companhia estipulou.

As três maiores fabricantes de cerveja do Japão gastaram mais de US$ 30 bilhões desde 2006 em aquisições no exterior, mas ainda não conseguiram colher plenamente os benefícios de suas dispendiosas aquisições.

A Kirin, a segunda maior fabricante de cerveja japonesa, decidiu fazer uma pausa em suas aquisições internacionais e se concentrar em fortalecer as operações adquiridas. Sua aquisição da Schincariol, a segunda maior fabricante de cerveja do Brasil, em 2011, foi uma decepção, com as vendas no país caindo em um terço no ano passado.

A dimensão das perdas da Asahi no exterior dobrou entre 2011 e 2013, atingindo prejuízo operacional de 4,6 bilhões de ienes, devido à contabilização de reduções nos ativos intangíveis. E o grupo está envolvido em uma longa e acrimoniosa disputa com a Independent Liquor, da Nova Zelândia, um grupo de bebida que a companhia japonesa adquiriu por 1,5 bilhão de dólares neozelandeses em 2012.

Izumiya também mencionou a escassez de gestores japoneses com experiência internacional e bom conhecimento de inglês como principal barreira ao crescimento externo.

"Sempre temos de pedir que o pessoal local assuma o comando, mas quando os negócios entram em crise, a não ser que tenhamos [nosso próprio] pessoal competente, há a chance de que nem percebamos os problemas. E, se eu fosse capaz de falar inglês fluentemente e sem intérprete, isso seria bom –creio que precisaremos disso no futuro".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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