Folha de S. Paulo


Petrobras dá ajuda recorde ao Tesouro

Com o caixa pressionado por dívida, impossibilidade de reajustar combustíveis e investimentos, a Petrobras conseguiu espaço para fazer o maior pagamento a acionistas para primeiros semestres desde 2008, antecipando todo o desembolso previsto para o ano e, consequentemente, o reforço ao caixa do Tesouro na formação do superavit primário (economia para pagamento de juros da dívida pública).

A empresa pagou, no primeiro semestre de 2014, R$ 8,73 bilhões em dividendos e JCP (juros sobre capital próprio), relativos ao ano de 2013, mostra levantamento da Economática obtido pela Folha. É o maior valor desembolsado com tal rubrica em primeiros semestres.

Desde 2009, só em 2012 a Petrobras havia concentrado o pagamento total em um semestre. E considerando a saída do dinheiro do caixa no primeiro semestre, foi a maior desde 2008.

Como dono de 28% do capital da Petrobras, o Tesouro recebeu quase R$ 2 bilhões –ante R$ 900 milhões do primeiro semestre de 2013.

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O governo tem recorrido mais às estatais para atingir metas de superavit primário. A meta é R$ 99 bilhões para o ano, 1,9% do PIB.

Donos de ações ordinárias –governo só tem esses papéis- receberam 100% mais nos dividendos de 2013, em relação aos de 2012, contra apenas 28% a mais das preferenciais. "Antecipar dividendo é bom para o acionista, mas faz a empresa perder capital de giro em um momento ruim", diz Gilberto Braga, professor do Ibmec-RJ.

A dívida é recorde, R$ 307 bilhões, resultado da necessidade de investir US$ 44 bilhões por ano.

A empresa tem de absorver a defasagem dos combustíveis em relação aos preços internacionais. O governo segura aumento desde novembro.

Segundo a Economática, hoje a Petrobras pagaria só 9,5% da dívida com o caixa gerado por sua operação (indicador Ebit), o pior resultado de pelo menos 12 anos.

"É por isso que o mercado castiga a Petrobras", diz o analista chefe da Gradual Investimentos, Flávio Conde. Segundo a Economática, o valor de todas as suas ações, R$ 457 bilhões em 2008, está abaixo de R$ 300 milhões há dois.

A relação entre esse valor e o patrimônio líquido, que mede o quanto está valorizada, 377% em 2008, hoje é 80%.

A Petrobras não explicou por que propôs pagar logo todos os dividendos. Informou que a dívida decorre de seu plano de investimentos e que o valor de mercado não reflete seu potencial de crescimento, inclusive com o pré-sal. Informou ter metas para reduzir o endividamento, sendo o reajuste de combustíveis uma das premissas.


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