Folha de S. Paulo


Telecom Italia considera contraoferta por GVT no Brasil

A Telecom Italia está considerando apresentar uma contraoferta para responder ao lance da espanhola Telefónica pelo grupo brasileiro GVT, em uma transação que poderia resultar em participação da Vivendi no grupo de telecomunicações italiano, de acordo com quatro pessoas informadas sobre o assunto.

A possível transação é uma das diversas opções que foram discutidas por Marco Patuano, presidente-executivo da Telecom Italia, e Vincent Bolloré, presidente do conselho da Vivendi, de acordo com pessoas informadas sobre o assunto.

A Vivendi e a Telecom Italia já conversaram no passado sobre a fusão de suas operações no Brasil, de acordo com uma pessoa familiarizada com a situação, ainda que a fonte tenha acrescentado que não surgiu decisão sobre o preço ou os termos de qualquer possível acordo.

As conversações entre Patuano e Bolloré aconteceram antes da oferta da Telefónica, esta semana, pela operadora brasileira de telefonia fixa GVT, em uma transação que resultaria em expansão ainda maior na América Latina para o maior grupo espanhol de telecomunicações, disseram as fontes.

TELECOM ITALIA

"É melhor para a Telecom Italia que a Telefónica tenha se pronunciado primeiro", disse uma pessoa diretamente informada sobre as conversações entre Patuano e Bolloré.

A Telecom Italia provavelmente oferecerá participação acionária ou na controladora italiana ou no grupo a ser criado pela fusão no Brasil, disse a fonte.

A discussão surgiu no momento em que a Telecom Italia, sob seu novo presidente-executivo, Patuano, um veterano do setor, e novo presidente do conselho, Giuseppe Recchi, ex-executivo da General Electric, busca deixar para trás a reputação de inércia estratégica que a empresa adquiriu sob sua gestão anterior.

Qualquer aquisição de uma participação na Telecom Italia pela Vivendi seria surpresa, porque o grupo francês vem vendendo subsidiárias de telecomunicações como a SFR e a Maroc Telecom, no último ano, como parte de uma virada estratégica na direção dos negócios de mídia.

No entanto, uma pessoa informada sobre a situação descreveu Bolloré como "oportunista", e acrescentou que qualquer participação adquirida em empresas fortes como parte da transação poderia ser revendida no futuro.

Outra fonte disse que as discussões entre a Telecom Italia e Bolloré ocorreram em um cenário setorial de convergência entre a mídia e as telecomunicações.

A pessoa disse que um acordo entre a Telecom Italia e a Vivendi também será um "investimento setorial" para o grupo francês, que tem por foco a sinergia. Bolloré já tem fortes conexões com um dos maiores acionistas da Telecom Italia, o banco de investimento Mediobanca, de cujo conselho ele faz parte.

TELEFÓNICA

A oferta da Telefónica –em valor total de 20,1 bilhão de reais (US$ 8,8 bilhões)– daria à Vivendi uma participação acionária de cerca de 12% na operação combinada.

A transação teria de passar pelo escrutínio das autoridades regulatórias do Brasil, onde o ministro das Comunicações Paulo Bernardo, que costuma falar sem rodeios, já expressou preocupação sobre a consolidação do setor de telecomunicações do país.

"Houve um frenesi desse negócio de 'consolidação' no mercado", disse Bernardo. "É essencialmente um eufemismo - o que está acontecendo é que os peixes grandes estão comendo os peixes pequenos".

A Vivendi declarou que a GVT não estava à venda, mas que consideraria a oferta da Telefónica na próxima reunião de seu conselho, no final de agosto.

A Telefónica também ofereceu à Vivendi a oportunidade de adquirir seus 8,3% de participação na Telecom Italia, quer diretamente, quer por meio de instrumentos de conversão compulsória.

Esse aspecto levou analistas a especular que uma possível união já houvesse sido discutida entre o grupo italiano e a Vivendi, e que a Telefónica estivesse agindo para bloqueá-la.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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