Folha de S. Paulo


Sem Vale e Petrobras, lucro das empresas dispara no 1º trimestre

O mau desempenho de Vale e Petrobras, as duas maiores empresas do país, no último trimestre puxaram para baixo o desempenho das companhias listadas no índice Bovespa, referência do nível de atividade empresarial.

Segundo levantamento feito pelo economista Michael Viriato, do Centro de Finanças do Insper, o lucro somado das 62 companhias presentes no Ibovespa dispara quando as duas empresas são excluídas do cálculo.

Na comparação entre o primeiro trimestre deste ano e igual período de 2013, o lucro de todas as empresas somadas cai 4,3%. Excluídas Vale e Petrobras, no entanto, ele mostra aumento de 20,7%.

Viriato diz que o peso demasiado de Vale e Petrobras na economia brasileira leva a análises equivocadas: "O Ibovespa deveria ser reflexo da média das empresas, mas, no Brasil, isso não ocorre."

As duas empresas, que estão entre as mais negociadas na Bolsa, sofrem com fatores como o menor crescimento da China –no caso da Vale– e as interferências do governo –no da Petrobras.

A desaceleração chinesa fez com que o preço do minério de ferro caísse 18,4% e reduziu o lucro da Vale.

Já no caso da Petrobras, o controle do governo sobre o preço da gasolina é visto como o principal problema, pois leva a empresa a importar combustível a um preço maior do que o de venda.

A alta do dólar, de 12% no período avaliado, também afetou as duas empresas.

O resultado das outras companhias acompanha o do setor de serviços, que possui maior peso na economia e no índice. De acordo com o economista Raul Velloso, essas companhias continuam a apresentar bom desempenho devido ao contínuo incentivo ao consumo via crédito bancário e desonerações.

"Como o setor de serviços não tem concorrência externa, consegue repassar uma inflação maior do que outros setores, principalmente a indústria. Isso tem elevado o lucro de forma geral", diz.

O desempenho, segundo ele, só não foi melhor por causa da indústria. "Os importados continuam a deixar a indústria em dificuldade."

Editoria de Arte/Folhapress

VALORIZAÇÃO

Para André Guilherme Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, é um erro recorrente analisar o desempenho das empresas do país sem retirar Vale e Petrobras dos cálculos, já que as companhias do país estão se valorizando.

Um índice de empresas feito pela corretora, o IGB30, evidencia essa distorção.

Enquanto o Ibovespa registra queda de 10,4% nos últimos 30 meses, o IGB30 aponta para alta de 22,6% no valor de mercado das empresas.

"Tentamos limpar alguns fatores que nos fazem entender a economia do país da forma errada, como as commodities", diz Perfeito.

A distorção no retrato sobre o desempenho das empresas brasileiras também afeta a forma como o mercado internacional olha para o país, diz ele.

"É uma distorção que cria pessimismo. No entanto, é possível ver que são questões pontuais. O restante vem crescendo consistentemente", afirma.


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