Folha de S. Paulo


Obras da Petrobras pelo PAC atrasam e inflam orçamento

Atrasos na entrega e estouros na previsão de gastos afetam a maioria dos projetos da Petrobras destacados no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), pacote do governo federal que elenca as principais obras do país.

A Folha comparou os atuais prazos e custos estimados em projetos da estatal com as metas divulgadas anos atrás, quando essas obras passaram a fazer parte desse selo federal, o PAC.

Os 14 projetos analisados totalizavam inicialmente despesas estimadas em R$ 120 bilhões. Atualmente, após atrasos, expectativas equivocadas e variação cambial, o custo previsto saltou para R$ 182 bilhões.

O valor, que inclui o que já foi gasto e o que ainda será despendido, representa avanço de 52% (ou 31%, descontada a inflação do período).

A diferença, de R$ 62 bilhões, equivale a oito vezes a soma das despesas com a construção e reforma dos 12 estádios da Copa de 2014.

Em 8 desses 14 projetos da companhia no PAC, há atrasos que variam de um ano a quatro anos e meio.

As obras são de diferentes áreas do setor de energia, como plataformas de petróleo, refinarias, indústria naval e combustíveis renováveis. Em parte delas, a Petrobras não é a única empreendedora.

Quatro dos projetos apareciam no balanço inicial do PAC 1, em 2007 -começo do segundo mandato de Lula.

Os demais passaram a fazer do pacote no PAC 2, nova fase do programa iniciada quando Dilma Rousseff assumiu a Presidência, em 2011.

Editoria de Arte/Folhapress

PROBLEMAS

O economista Mauricio Canêdo, professor da Fundação Getulio Vargas, diz que, com a política de preços de combustíveis no mercado interno inferiores aos do exterior, há menos caixa e a empresa acaba "fazendo escolhas".

"A prioridade são investimentos na exploração e na produção [de petróleo]. Se ela não fizer, poderá perder o direito sobre um campo."

Canêdo também vê uma correlação dos atrasos com a readequação do plano de investimentos da Petrobras na gestão da presidente Graça Foster, iniciada em 2012.

A maior parte dos R$ 62 bi de diferença entre os orçamentos antigos e os atuais se deve a dois problemáticos projetos: a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).

A obra em Pernambuco foi pensada como uma parceria com a Venezuela. O país vizinho, no entanto, decidiu se retirar do empreendimento, deixando a íntegra da conta para a estatal brasileira.

A obra do Rio é afetada por diversas questões, como problemas ambientais e greves.

ATRASOS

Presidente da associação dos engenheiros da estatal, Sílvio Sinedino, que tomará posse no conselho de administração da companhia nesta semana, diz que os adiamentos nos prazos acabam impactando também nos custos dos empreendimentos.

"Os atrasos dão margem para que as empreiteiras peçam aditivos aos contratos", afirma Sinedino.

OUTRO LADO

A Petrobras e o Ministério do Planejamento, responsável pela gestão do PAC, atribuem a alta nos orçamentos de projetos a fatores como a variação cambial ocorrida desde o anúncio das obras e a inflação no período.

A Petrobras disse que os empreendimentos da época do PAC 1 estavam "em linha com projeções do mercado".

Para o ministério, é "inconsistente em termos metodológicos" comparar dados atuais com os de sete anos atrás. A maior parte dos projetos analisados pela Folha leva em conta dados divulgados desde o início do PAC 2 (2011).


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