Folha de S. Paulo


Dólar completa um mês abaixo de R$ 2,40; Bolsa sobe mais de 1%

Embora analistas afirmem que a tendência do dólar no Brasil neste ano continue sendo de alta, a moeda americana completou nesta quinta-feira (6) um mês abaixo de R$ 2,40 –valor considerado por operadores de mercado como confortável tanto pelo Banco Central quanto por empresas exportadoras– com desvalorização de 3,5% no período.

Para os analistas, em torno de R$ 2,40, o dólar não é tão caro a ponto de pressionar a inflação nem tão barato que prejudique a receita em reais de exportadores.

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou o dia em baixa de 0,34%, para R$ 2,317 –menor valor desde 10 de dezembro do ano passado, quando ficou em R$ 2,310. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, teve leve alta de 0,04% nesta quinta-feira, a R$ 2,321, depois de ter operado praticamente o dia todo em baixa.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, subiu 1,08%, aos 47.093 pontos, com o mercado avaliando positivamente a ata da última reunião de política monetária do Banco Central.

Segundo analistas consultados pela Folha, o movimento também refletiu um alívio nos mercados externos, que subiram após quedas recentes em meio às tensões na Ucrânia, e um ajuste à perda registrada ontem, de 1,07%.

A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) mostrou que o BC vê melhora na inflação, sinalizando um juro mais moderado.

"A autoridade deixou claro que continua vigilante com os preços, o que é positivo", diz João Brügger, analista da consultoria Leme Investimentos. "O tom do documento foi um pouco duro, na nossa opinião, mas a clareza agradou o mercado", acrescenta.

Para José Carlos Amado, operador da Renascença Corretora, a sinalização pelo BC de que haverá mais um aumento de 0,25 ponto percentual no juro básico (a Selic) em sua próxima reunião, em abril, trouxe certo alívio para o câmbio hoje. "Isso, em tese, é benéfico, pois atrai mais estrangeiros ao país, que buscam retornos maiores", diz.

O deficit de US$ 2,1 bilhões na balança comercial brasileira em fevereiro, segundo os especialistas, ficou dentro do esperado, com influência limitada nos mercados nesta quinta-feira.

PERSPECTIVAS

Apesar de ter cedido 3,5% desde 5 de fevereiro, quando esteve pela última vez na casa de R$ 2,40, o dólar à vista se mantém em tendência de alta para o final do ano, dizem operadores.

"É pontual. Reflete alguns fatores como a meta fiscal do governo para 2014, que foi bem recebida pelos investidores. Não vemos nenhuma razão que possa manter a moeda americana nos níveis atuais. O deficit nas transações correntes deve continuar acima de US$ 70 bilhões e a balança comercial, ruim", diz Brügger.

O analista da Leme diz que é mais provável a moeda americana fechar 2014 mais perto de R$ 2,50 do que R$ 2,30. A última pesquisa semanal do BC com economistas mostrou redução ligeira da projeção, de R$ 2,50 para R$ 2,49.

"O mercado [de câmbio] pode estar na defensiva, esperando o que pode acontecer. Ele sabe que o governo tem recursos para controlar uma alta do dólar e não quer testar essa resistência, por ora. O BC tem agido corretamente ao afirmar que está vigilante com a volatilidade do câmbio. Mas, se o governo não começar a apresentar bons resultados, o BC não poderá fazer nada, pois a moeda americana vai voltar a subir", completa.

Para Amado, da da Renascença Corretora, ainda há desconfiança no mercado. "A meta do governo de economizar 1,9% do PIB é apenas uma projeção. Se isso vai se confirmar já é outra história. Estamos em um ano eleitoral e parte do mercado ainda está cética com essa possibilidade. Isso vai pressionar o câmbio até o final do ano", diz.

O superintendente de câmbio da Advanced Corretora Reginaldo Siaca lembra que ainda há o risco da nota do Brasil por agências internacionais de classificação de risco, o que adiciona cautela nos investidores. "A meta fiscal do governo pode ter adiado uma revisão por parte das agências de risco, mas, se elas perceberem que o país não cumprirá o que prometeu, podem cortar o 'rating' no decorrer do ano. Isso causaria uma alta imediata do dólar", afirma.

Segundo ele, fatores externos como a retirada do estímulo dos EUA e a uma possível piora na crise europeia, com o agravamento das tensões na Ucrânia, seguem afetando negativamente o câmbio. A projeção de Siaca para o final de 2014 é de dólar entre R$ 2,40 e R$ 2,45.

AÇÕES

Os papéis mais negociados da Petrobras fecharam o dia em alta de 1,05%, devolvendo parte das perdas recentes. Apenas em 2014, ação, que representa mais de 8% do Ibovespa, soma desvalorização de 21,4%.

As ações do Itaú Unibanco, que possuem o terceiro maior peso no índice, tiveram ganho de 2,77%. Mas quem liderou a ponta positiva do Ibovespa foi a construtora MRV, cujos papéis subiram 5,26%.

Em sentido oposto, as principais perdas entre as 72 ações que compõem o Ibovespa foram da companhia aérea Gol (-2,32%), da Kroton Educacional (-2,31%) e do Banco do Brasil (-2,17%).


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