Folha de S. Paulo


Bolsa tem 2ª alta e dólar cai ao menor nível em um mês após meta fiscal

Com investidores avaliando positivamente, mas ainda com cautela, a meta fiscal anunciada pelo governo brasileiro para este ano, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou esta quinta-feira (20) em alta de 0,29%, aos 47.288 pontos. Foi a segunda valorização consecutiva do índice.

O anúncio também aliviou a pressão sobre o câmbio. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou em queda de 1,11% sobre o real, cotado em R$ 2,370 na venda. É o menor valor desde 21 de janeiro, quando estava em R$ 2,364. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, teve desvalorização de 0,71%, a R$ 2,373.

O governo anunciou hoje que pretende fazer um esforço fiscal de 1,9% do PIB (Produto Interno Bruto), o que significa uma poupança equivalente a R$ 99 bilhões para pagamento dos juros da dívida pública. Para isso, será necessário reduzir R$ 44 bilhões em despesas programadas no Orçamento deste ano.

"A questão fundamental é saber se isso é executável e é nossa opinião preliminar que sim. A presidente Dilma fez um esforço desta magnitude no início do seu mandato e ela pode também repetir o esforço agora", diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

Perfeito enfatiza que estes esforços do governo deverão ser suficientes para evitar o rebaixamento da nota soberana do Brasil por agências de classificação de risco no curto prazo.

"O contingenciamento anunciado pelas autoridades brasileiras é um passo na direção certa e ressalta que o governo está buscando melhorar as expectativas de política fiscal. A meta orçamentária é baseada em uma projeção mais realista, embora ligeiramente otimista, para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2014", diz Shelly Shetty, responsável pelas notas soberanas da agência de risco Fitch Ratings na América Latina.

Em nota, Shelly diz que a expectativa de que o governo use receitas extraordinárias para beneficiar seu orçamento reduziu de 2013 para 2014. "Temos que monitorar a performance fiscal em 2014 para julgar quão efetivo será o contingenciamento, especialmente no contexto de riscos contínuos de corte nas projeções de crescimento", completa.

Para Mauro Leos, analista da Moody's para o Brasil, o anúncio é uma indicação de que não deve haver um ajuste fiscal relevante antes das eleições presidenciais. "Um superavit primário de 1,9% do PIB pode ser suficiente para evitar uma deterioração nos indicadores de dívida do Brasil", diz, em nota.

AVALIAÇÕES

Para Paulo Petrassi, sócio operador da consultoria Leme Investimentos, o anúncio do governo foi positivo, apesar de acreditar que não será possível cumprir a meta proposta.

"Houve influência nos juros de curto prazo, principalmente. Mesmo que o mercado tenha um pé atrás sobre a probabilidade de o governo atingir seu objetivo, o anúncio mostrou um empenho do governo em tomar medidas para melhorar a questão fiscal no país, o que foi bem recebido", diz.

A meta, segundo Petrassi, reforçou a aposta do mercado de alta da Selic em apenas 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), na semana que vem.

Mas essa perspectiva não é unânime. Perfeito, da Gradual, espera um aumento de 0,5 ponto percentual no juro básico na próxima semana. "Por que não fazer uma alta maior agora e evitar ter que voltar a subir os juros no longo prazo?", indaga.

Sobre o câmbio, Reginaldo Galhardo, gerente da Treviso Corretora, diz que o que mais influenciou hoje foi a percepção do mercado de que um possível corte na nota soberana do Brasil foi adiado após a postura mais firme do governo no âmbito fiscal.

Além disso, também pesaram sobre o câmbio hoje as intervenções do BC, que fez seu leilão diário de swaps cambiais tradicionais (equivalente à venda futura de dólares), vendendo 4.000 contratos por um total de US$ 197,6 milhões. A autoridade promoveu ainda a décima primeira rolagem dos contratos com vencimento em 5 de março, vendendo 10.500 papéis por um total de US$ 516,7 milhões.

PAPÉIS

As ações mais negociadas da Vale caíram 1% nesta quinta-feira, refletindo o resultado de um indicador preliminar do Markit/HSBC para a indústria chinesa, que caiu para seu menor nível em sete meses em fevereiro. A China é o principal destino internacional do minério de ferro produzido pela mineradora brasileira.

Em sentido oposto, o setor elétrico, assim como ontem, fechou em alta, com destaque para Light (+3,92%) e CPFL (+4,31%).

Já a ponta negativa do Ibovespa foi preenchida por papéis de construtoras, que ontem fecharam com fortes ganhos. Rossi Residencial perdeu 2,27%, enquanto PDG teve desvalorização de 1,89%.

A operadora de telefonia Oi viu suas ações mais negociadas caírem 0,79%, após ter submetido pedido de registro na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para oferta pública de ações, operação que faz parte do processo de fusão com a Portugal Telecom.


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