Folha de S. Paulo


Atraso em obras no Norte do país encarece contas de energia, diz TCU

Atraso em obras para interligar cidades da região Norte do país ao sistema elétrico nacional ocasionaram prejuízos nos últimos quatro anos de pelo menos R$ 2,6 bilhões, valor que foi repassado para as contas dos consumidores de energia ou para o Tesouro Nacional.

É o que aponta relatório do TCU (Tribunal de Contas da União) aprovado nesta quarta-feira (19).

O órgão pediu explicações aos responsáveis, a estatal de energia Amazonas Energia e sua controladora, a Eletrobras, sobre os problemas apontados e solicitou à Aneel providências para regularizar os problemas e evitar novos prejuízos aos consumidores.

Após análise do órgão, responsáveis poderão ser punidos com multa e devolução dos potenciais prejuízos, entre outras punições previstas.

A análise do TCU se concentrou na Conta de Consumo de Combustíveis Fósseis (CCC), um encargo que até 2012 era cobrado dos consumidores e que, desde a reforma do sistema elétrico implantada pelo governo naquele ano, passou a ser assumida pelo Tesouro.

A CCC é uma compensação dada às distribuidoras de energia de áreas isoladas para que os consumidores dessas áreas não arquem sozinhos com o custo da geração por óleo diesel, muito mais caro que a geração por termelétricas a gás e hidrelétricas que atendem o chamado Sistema Interligado Nacional (que cobre as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte do Norte).

OBRAS ATRASADAS

Desde a década passada, o governo vem tentando levar o sistema nacional até o Norte do país e também reduzir a conta da geração das áreas isoladas trocando o combustível das térmicas de diesel para gás natural.

Para isso, duas obras eram essenciais: a construção de um gasoduto entre Urucu e Manaus e uma linha de transmissão entre Acre e Rondônia.

A apuração do TCU apontou que a obra da linha de transmissão atrasou devido a problemas de licenciamento ambiental. O órgão pediu para a Procuradoria da República apurar eventual participação do governo estadual nesse atraso.

Isso teria ocorrido porque o governo local não queria perder o pagamento do ICMS que era gerado pela compra do diesel para as usinas térmicas.

Para o tribunal, essa atraso gerou um prejuízo de R$ 2 bilhões entre 2009 e 2012 devido a diferença de custo entre a geração a diesel e em relação a outros sistemas.

GASODUTO

Em relação ao gasoduto, a obra ficou pronta em 2012. Mas as usinas termelétricas do Amazonas não foram convertidas para receber o gás natural.

Com isso, continuaram gerando eletricidade com o diesel o que, para o TCU, gerou um prejuízo estimado em R$ 570 milhões somente em 2013.

Técnicos do sistema elétrico apontam que para cada R$ 1,2 bilhão a R$ 1,3 bilhão ao ano que são gastos em despesas semelhantes à da CCC, a conta dos consumidores tem que subir em média 1%.

Mas, desde o ano passado, o governo tem evitado repassar esses custos para os consumidores o que tem pesado no orçamento federal.

No ano passado foram gastos R$ 10 bilhões para pagar esse tipo de conta. No orçamento de 2014, o governo reservou R$ 9 bilhões para esse pagamento.

Mas especialistas estão apontando que a conta será muito maior que o valor previsto devido ao baixo nível dos reservatórios que está pressionando o preço da energia.

O governo não definiu ainda se irá colocar mais recursos ou repassar a despesa para os consumidores. A tendência é que uma parte seja paga pelos usuários.


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