Folha de S. Paulo


Hollywood diz que Google faz pouco contra filmes piratas

Chris Dodd, ex-senador norte-americano que preside a Motion Picture Association of America (MPAA), organização setorial dos grandes estúdios de cinema norte-americanos, acusou o Google de não fazer o suficiente para impedir que os internautas encontrem conteúdo pirateado on-line.

O serviço de buscas mudou seu algoritmo no fim de 2012 como um gesto de paz para com Hollywood, depois do colapso do projeto de lei Sopa, de combate à pirataria on-line, que estava destinado à aprovação, mas foi derrubado depois que as companhias de internet mobilizaram seus usuários contra ele.

A mudança de algoritmo proposta pelo Google envolvia relegar os sites que oferecem conteúdo pirata a posições mais baixas em sua lista de retornos de busca. Mas um relatório solicitado pela MPAA e recentemente publicado aponta que a mudança não teve efeito "significativo" sobre "o posicionamento do retorno na lista... os resultados de busca acessados pelos clientes não tinham posição mais baixa na lista do que antes da mudança de algoritmo".

Dodd disse ao "Financial Times" em entrevista que, "em casos demais", uma busca continua conduzindo usuários a sites ilegais.

A mudança não teve efeito: "Nada aconteceu", ele disse. "Quero ser positivo quanto a isso. [O Google] é uma ótima companhia, que faz excelente trabalho, de muitas maneiras, e eles fizeram uma ótima oferta [de mudança do algoritmo]. Todo mundo precisa trabalhar melhor quanto a isso, mas as companhias de busca também precisam melhorar."

Dodd, um dos autores da lei Dodds-Frank de reforma da regulamentação do mercado financeiro norte-americano, agora se tornou o principal lobista de Hollywood, responsável por representar os interesses da indústria cinematográfica nos mercados internacionais em rápido crescimento (como o da China) e por liderar os esforços de combate à pirataria. Não está claro exatamente quanto a pirataria custa ao setor de cinema e televisão anualmente, mas as estimativas atingem as centenas de milhões de dólares.

Dodd foi indicado para comandar a MPAA em 2011, sucedendo a Dan Glickman e ao predecessor deste, Jack Valenti, lobista morto em 2007 que usava botas de caubói e foi confidente de presentes e fez de Hollywood uma força importante em Washington.

Impedido de fazer lobby junto a congressistas por dois anos, depois de sua indicação para a presidência da MPAA, Dodd teve de assistir dos bastidores ao desenrolar da saga Sopa e a derrota das empresas de Hollywood por suas rivais no Vale do Silício. "Houve muita desinformação", ele disse sobre a campanha de combate ao projeto Sopa.

"Estávamos falando de agir contra sites estrangeiros que estivessem roubando produtos... não havia nenhuma intenção de destruir a Internet ou a liberdade de expressão; aliás, bem o oposto."

Um projeto de lei que até ali havia desfrutado de amplo apoio subitamente se tornou um veneno político quando internautas começaram a bombardear congressistas com expressões de oposição à medida.

"Foi um evento político sem precedentes no país", diz Dodd. "Quero deixar para trás o conceito de que escolher entre conteúdo e tecnologia é uma ideia legítima. Isso é a coisa mais idiota que já ouvi... a tecnologia precisa do conteúdo e o conteúdo precisa da tecnologia."

CHINA

O conteúdo --filmes, no caso de Hollywood-- também precisa de novos mercados. Desde a indicação de Dodd a China ampliou a cota reservada à exibição de filmes estrangeiros em seus cinemas de 20 a 34 por ano. A mudança aconteceu depois de um esforço de bastidores envolvendo o vice-presidente Joe Biden e Xi Jinping, então vice-presidente e hoje presidente da China, em 2012.

A MPAA vem tentando fomentar um relacionamento melhor com a indústria cinematográfica chinesa, e nesta semana em Los Angeles conduziu a terceira conferência de cúpula entre os setores cinematográficos dos dois países, para encorajar mais acordos de coprodução entre estúdios chineses e norte-americanos.

A resposta chinesa vem sendo encorajadora, segundo Dodd: "Os chineses estão verdadeiramente determinados. Querem ganhar exposição mundial e viram o que os Estados Unidos foram capazes de realizar no século 20 [com o cinema]; querem tentar fazer o mesmo".

Dentro de alguns anos a China superará os Estados Unidos como maior mercado cinematográfico do planeta. O número de salas de exibição no país vem crescendo em 12,5 ao dia, em resposta a uma demanda explosiva: as bilheterias totais de cinema do país cresceram de US$ 120 milhões em 2003 a US$ 2,7 bilhões em 2012.
"Neste ano, eles já mostram alta de 34% ante o ano passado; a marca de US$ 2,7 bilhões foi atingida em junho", segundo Dodd.

No entanto, o acesso ao mercado chinês nem sempre tem sido fácil, a despeito da elevação na cota para filmes estrangeiros em 2012. Os estúdios de Hollywood enfrentavam dificuldades para tirar da China sua porcentagem do faturamento dos filmes exibidos, um problema que persistia até recentemente.

Dodd disse que a questão foi resolvida depois de diversas reuniões entre as autoridades chinesas e dirigentes de estúdio. "Todo o dinheiro referente a 2012 foi pago, e boa parte do dinheiro de 2013."

Combater a pirataria e auxiliar o crescimento internacional do setor de cinema e televisão norte-americano é essencial para a economia dos Estados Unidos, acrescentou. "A cada dia, 2,1 milhões de pessoas trabalham em funções que dependem do setor de cinema e TV nos Estados Unidos --e esses empregos se espalham pelos 50 Estados do país. O aspecto econômico [desse negócio] é fantástico."

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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