Folha de S. Paulo


IR e tempo de saque tiram atratividade da poupança para empresas

Pelos anos em que trabalhou como funcionária contratada, a empresária Adriana Oliveira, 58, concluiu que a caderneta de poupança era o melhor caminho para alcançar suas metas de longo prazo, como abrir um restaurante igual ao que tem hoje em Vargem Grande Paulista, na Grande São Paulo.

Ao abrir seu primeiro negócio, há quatro anos, quis reproduzir a prática com uma poupança para o restaurante, onde ficariam os recursos para reinvestir em reformas e expansões.

Empreendedor deve verificar se sobra é "real" antes de fazer aplicação

No Brasil, ao menos 105 mil empresas têm R$ 2,74 bilhões investidos na poupança, segundo dados da Caixa Econômica Federal. O saldo total de pessoas jurídicas do banco estatal é de R$ 20 bilhões, sendo a maior parte de entidades públicas ou associações sem fins lucrativos.

O número do Banco Central, que compreende --sem distinção-- todas as categorias acima, indica um total de R$ 22,6 bilhões na pessoa jurídica. Como comparação, poupadores pessoa física têm quase R$ 400 bilhões.

A diferença é fácil de explicar. A poupança é o instrumento mais tradicional de aplicação do pequeno investidor, ao qual é ligada quase de forma automática.

Eduardo Knapp/Folhapress
A empresária Adriana Oliveira, que abriu uma poupaça para seu restaurante
A empresária Adriana Oliveira, que abriu uma poupaça para seu restaurante

Para esse público, o uso é incentivado com isenção do Imposto de Renda -um dos principais atrativos da opção-- e pagamento mensal de rendimentos.

As empresas pagam 22,5% de IR sobre o rendimento e precisam esperar três meses para colher os frutos da correção. Ou seja, o empresário que saca, ao longo do trimestre, o saldo de R$ 100 depositados, tira os mesmos R$ 100.

Para especialistas ouvidos pela Folha, são regras que a deixam menos atrativa para as empresas em relação a outras aplicações de risco e liquidez semelhante, como o CDB (Certificado de Depósito Bancário).

"Na poupança, você não mexe. Tem um jurinho, que é melhor que nada", afirma Adriana.

INTUIÇÃO

A decisão pela poupança, confessa, foi tomada sem consulta, de forma intuitiva e pelo hábito adquirido durante anos na vida pessoal.

É assim também que surgem a maior parte das poupanças abertas na Caixa, segundo a superintendente nacional de Micro e Pequenas Empresas do banco, Eugênia Regina de Melo.

Cerca de 90% são de micro e pequenas empresas, como cabeleireiros e padeiros. Para alguns empreendedores, é o primeiro contato com o banco, um fenômeno que vem crescendo desde a criação da figura do MEI (Microempreendedor Individual).

"Para os pequenos que estão entrando no mercado financeiro, a poupança é um instrumento simples, de rendimento garantido e que ele conhece da pessoa física. É uma forma das micro e pequenas se capitalizarem para poderem crescer", afirma Eugênia.

Ela explica, contudo, que o banco não direciona investimentos, apenas indica os riscos.

Editoria de Arte/Folhapress

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