Folha de S. Paulo


Obama culpa "cruzada ideológica" por paralisação de governo

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, culpou os republicanos nesta terça-feira por uma "cruzada ideológica" contra seu programa de saúde e fez um apelo para que os parlamentares votem para manter as operações do governo funcionando sem estabelecer condições.

"Eles paralisaram o governo por conta de uma cruzada ideológica para negar seguro-saúde num valor acessível a milhões de americanos", disse ele em declaração nos jardins da Casa Branca.

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"Muitos deputados deixaram claro que se eles tivessem tido permissão do presidente (da Câmara dos Deputados John) Boehner para fazer uma votação simples para deixar o governo operando sem condições atreladas, votos suficientes dos dois partidos teriam deixado o governo do povo americano aberto e operando", disse.

Democratas e republicanos não fecharam um acordo até a 0h01 de hoje (1h01 em Brasília), início do ano fiscal americano e prazo final para ampliar o teto da dívida do governo, de US$ 16,7 trilhões.

Ao menos 700 mil funcionários públicos receberão licença sem pagamento. Outros milhares de trabalhadores (como guardas de presídios e controladores de voo) serão convocados a trabalhar sem pagamento --receberão salário quando acerto for fechado no Congresso.

O funcionalismo federal conta com cerca de 2,9 milhões de trabalhadores civis.

Parques e museus dos EUA tiveram de fechar suas portas nesta terça-feira. O Lincoln Memorial, um dos principais monumentos de Washington, e a Estátua da Liberdade, em Nova York, não abriram.

IMPASSE

A oposição republicana defende condicionar a ampliação do teto da dívida ao adiamento por um ano da reforma da saúde promovida pelo democrata Barack Obama --um dos principais feitos da administração. A situação, por sua vez, rejeita a oferta.

A disputa política deve ter efeitos econômicos. A intensidade dependerá de quanto tempo vai durar o impasse.

Estimativa do banco Morgan Stanley aponta que cada semana de paralisação vai custar 0,15 ponto percentual do PIB do quarto trimestre. Entre abril e junho (dado mais recente), a economia americana cresceu 2,5%.

Mas o cenário pode ser ainda pior, dependendo de como vai afetar a confiança de empresários e consumidores.

As preocupações sobre o impasse no Congresso foram um dos motivos para o Fed (BC dos EUA) ainda não retirar parte dos seus estímulos iniciados no fim de 2012.

Em 2011, as dificuldades para que o Congresso fechasse um acordo semelhante foi um dos motivos para que a agência Standard & Poor's retirasse pela primeira vez a nota máxima dos títulos do governo norte-americano.

Como aconteceu naquela ocasião, as Bolsas e as moedas dos países emergentes, inclusive o Brasil, poderão sofrer os efeitos.

TETO

O teto da dívida já havia sido atingido em maio, mas desde então o governo vinha lançando mão de medidas emergenciais. Segundo o governo, esses recursos se esgotarão no dia 17.

A última vez que o governo foi paralisado por falta de recursos foi sob Bill Clinton (democrata como Obama), em dois períodos, totalizando 28 dias, entre 1995 e 1996.


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