Folha de S. Paulo


Bolsa brasileira fecha em baixa de mais de 2% em dia de perda generalizada

O Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa brasileira, seguiu o mau humor nos mercados externos e fechou esta terça-feira (6) em queda de 2,09%, a 47.421 pontos, com os investidores cautelosos em relação ao estímulo econômico americano e à espera de balanços de importantes empresas.

Foi a terceira queda seguida do Ibovespa, somando perda de 3,53% no período. No acumulado de 2013, o principal índice da Bolsa brasileira acumula desvalorização de 22,2%. Apenas sete ações das 71 que compõem o Ibovespa tiveram alta hoje: MMX (+11,6%), LLX (+4,6%), Hering (+2,34%), Copel (+2,01%), B2W (+1,25%), Localiza (+0,78%), e Cesp (+0,7%).

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Em sentido oposto, as ações ordinárias (com direito a voto) da operadora Oi lideraram as perdas do Ibovespa no dia, cedendo 8,14%, para R$ 4,40.

Para Carlos Müller, analista-chefe da Geral Investimentos, além do cenário americano, o mercado está cauteloso nesta semana à espera de resultados importantes que serão divulgados, como os da Petrobras e da Vale.

"Imagino que os balanços dessas empresas não devem ajudar a impulsionar o Ibovespa para cima, pois podem trazer números piores que os anteriores", avalia Müller.

O presidente do Federeal Reserve de Atlanta, Dennis Lockhart, disse que o BC americano pode iniciar a retirada de seu programa de estímulo em qualquer uma das três reuniões restantes neste ano: em setembro, outubro ou dezembro.

Lockhart não é um membro votante nas reuniões de política monetária dos EUA, mas sua fala ampliou o clima de tensão nos mercados globais.

Para injetar recursos na economia, o BC americano recompra mensalmente, desde 2009, US$ 85 bilhões em títulos do governo --e parte desse dinheiro se transforma em investimentos em outros países, inclusive o Brasil.

Com a redução desse incentivo, os recursos disponíveis para aplicações vão diminuir, podendo esfriar ainda mais a economia brasileira.

"Há poucas clarezas em relação aos próximos passos do BC americano. Há também discordância no tom dos membros da instituição. A incerteza eleva a apreensão nos mercados globais, especialmente nos emergentes, que devem ser os mais afetados pelo corte no programa de estímulo americano", diz João Brügger, analista da Leme Investimentos.

Para Brügger, o corte no estímulo americano já está parcialmente refletido na atual pontuação do Ibovespa.

"Acho que a queda do índice no ano [em torno de 20%] parece justa, pois, além das influências externas, o cenário doméstico está ruim: a inflação é alta e houve uma perda de credibilidade em relação a política econômica do governo", afirma.

Mesmo assim, o analista vê possibilidade de que na segunda metade do ano o Ibovespa tenha uma melhora pautada em preço: alguns ativos ficaram baratos e os fundos devem reajustar suas carteiras visando um rendimento melhor no ano, estimulando uma ligeira retomada do índice.

CÂMBIO

No câmbio, o dólar à vista --referência para as negociações no mercado financeiro-- teve desvalorização de 0,59% em relação ao real, cotado em R$ 2,290 na venda. O dólar comercial --utilizado no comércio exterior-- cedeu 0,17%, para R$ 2,299.

Ontem, a moeda americana fechou pela segunda vez em três dias acima de de R$ 2,30, patamar apontado por especialistas como limite de uma banda informal aceita pelo governo --que não prejudica a inflação nem as empresas exportadoras--, mas não houve intervenção do Banco Central.

Para Reginaldo Siaca, superintendente de câmbio da Advanced Corretora, o dólar já subiu além do que deveria. "Está em um nível muito elevado para uma economia que está querendo conter a inflação", avalia.

"Pelo impacto na inflação, o preço do dólar não pode subir mais que isso [R$ 2,30]. O BC pode atuar de forma mais pesada no mercado de câmbio se a moeda americana continuar subindo. Ele pode, por exemplo, vender dólar no mercado à vista, aumentando o volume de moeda americana no mercado brasileiro e diminuindo a quantidade de reais", acrescenta Siaca.

Outra opção mais agressiva que o BC poderia adotar se pretende derrubar o dólar, segundo Prado, do Grupo Fitta, seria o corte na cobrança de 6% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nas captações de curto prazo --até um ano.

"Isso só deve ser adotado, no entanto, caso o aumento do dólar saia do controle e ultrapasse bastante os atuais R$ 2,30", diz. "Não vejo isso acontecendo no curto prazo", completa.


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