Folha de S. Paulo


Cresce número de consumidores que deixam a lista de inadimplentes da Serasa

Uma pesquisa da Serasa Experian, empresa de informações financeiras, indica um crescimento no número de consumidores que deixaram o cadastro de inadimplentes nos primeiros quatro meses deste ano, ao mesmo tempo em que caiu o número de consumidores que ingressaram na lista.

Os dados obtidos pela Folha mostram que 8,92 milhões de consumidores deixaram a lista da Serasa. Esse número representa uma alta de 6,4% de consumidores que recuperaram o crédito em relação ao mesmo período do ano passado, quando 8,38 milhões saíram da lista.

Entre os consumidores que ingressaram na lista, houve uma queda de 2,1% --foram 11,27 milhões de novos registros de inadimplência em abril frente a 11,51 milhões no mesmo mês do ano passado.

A tendência de queda em novos consumidores inadimplentes ocorre em meio a uma queda também no consumo e na busca de crédito, além de indicadores fracos do crescimento econômico. Divulgado ontem, o índice IBC-BR do primeiro trimestre deste ano, que serve como prévia do PIB, ficou abaixo do esperado por analistas e apontou para uma recuperação moderada da economia.

Editoria de Arte/Folhapress

O economista da Serasa Luiz Rabi diz que os dados reforçam a tendência de declínio na inadimplência percebida desde o último trimestre de 2012, após dois anos de alta.

"Essa combinação de queda na negativização com aumento da regulação [do crédito] não acontecia desde 2010. É raro", diz Rabi. "Isso corrobora o atual quadro de declínio da inadimplência, depois de ter subido durante praticamente dois anos."

RIGOR NO CRÉDITO

Para Rabi, o resultado da pesquisa pode ser explicado pelo ambiente favorável do mercado de trabalho para os consumidores, com ganhos reais de renda e baixas taxas de desemprego, e pelo maior rigor na concessão de crédito dos bancos.

"Aquele excesso de endividamento que houve em 2010, e que gerou uma inadimplência alta em 2011 e 2012, já não existe mais. Os bancos apertaram o controle, então os novos créditos têm uma qualidade maior. O crédito cresce menos, mas com qualidade, o que gera menos inadimplência", diz.

O indicador de inadimplência da Serasa, que calcula o volume das dívidas, teve alta de 9,5% no primeiro quadrimestre deste ano. Em 2012, a alta para este mesmo período havia sido mais que o dobro, de 19,6%.

Os índices de inadimplência para pessoa física do Banco Central mostram também uma redução na inadimplência, embora ainda estejam em níveis altos. Neste ano, a inadimplência no crédito financeiro de recursos livres (que não leva em conta o financiamento imobiliário) passou de 7,9% para 7,6%. Em 2012, esteve acima de 8,0% na maior parte do ano.

QUEDA NO CONSUMO

A pesquisa da Serasa Experian surge após uma série de indicadores que apontam para uma queda no consumo.

Em abril, o movimento de consumidores no comércio caiu 1,4% em relação a março, em outro indicador calculado pela Serasa. Pesquisa da Fecomercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de SP) mostra que a disposição do paulistano para se endividar caiu 9,8%, ante o mês anterior. Em março, o índice já sofrera queda de 1,5%. Desde julho do ano passado, quando foi iniciada a pesquisa, a redução na intenção de se endividar acumula queda de 50%.

O professor do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), Alexandre Chaia, diz que os dados da Serasa refletem um ajuste de um ciclo de expansão de crédito. "O processo de inadimplência é cíclico. O Brasil nos últimos anos teve vários saltos de crescimento de crédito. Toda vez que você tem um ciclo de crescimento de crédito robusto, há um ciclo de inadimplência maior na sequência."

A piora do quadro econômico, com redução do crescimento, poderia provocar um novo aumento na inadimplência. Chaia, porém, acredita que isso não deverá influenciar a inadimplência no futuro. "Se não tivesse o problema da inflação e das taxas de juros, provavelmente esse ciclo de inadimplência teria uma redução maior. As pessoas têm emprego e estão conseguindo pagar as contas", diz.

COMO EVITAR E SAIR DAS DÍVIDAS

Para quem quer evitar o endividamento, o planejador financeiro Valter Police aconselha pagar sempre à vista.

"Mesmo sem juros, o fato de ter o hábito de parcelar tende a fazer você perder o controle. Você acha que tem o mesmo salário e a mesma verba no próximo mês e não tem, porque ela já está comprometida com a parcela da compra de agora. Você tende a usar o mesmo dinheiro mais de uma vez", diz Police.

Caso precise entrar no cheque especial, Police sugere que não passe de dois ou três dias.

A fatura do cartão de crédito deve ser paga integralmente. "Se não puder pagar tudo, faça um empréstimo no banco e quite, é mais barato", aconselha.

Para quem já está endividado, o primeiro conselho é a mudança de hábito. "Quando a gente está no fundo do poço, a primeira coisa é parar de cavar. Ou seja, pare de fazer as coisas que levaram você até aí".

É importante assumir a responsabilidade. "A culpa é sua, que tomou as decisões equivocadas". Em seguida, é preciso listar as dívidas e priorizar uma para pagar primeiro --em geral, a que tem juros maior. Mas, sobretudo, não adianta fazer a lista, pagar as dívidas se não cortar o problema na origem --os hábitos de consumo.


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