Folha de S. Paulo


Vale enfrenta protestos e problemas em área de mineração em Moçambique

O "TV Folha" foi até a cidade de Tete, em Moçambique para conferir os problemas enfrentados por moradores da região após o início da exploração de carvão pela Vale no país.

Na semana passada, cerca de 400 pessoas bloquearam as estradas de acesso à mina da Vale, interrompendo o transporte do carvão que seria exportado pela ferrovia.

E este foi só mais um da série de percalços que a empresa enfrenta desde que a mina começou a produzir, em 2011. O reassentamento das 5,1 mil pessoas que tiveram de ser removidas da área de reserva mineral foi um pesadelo.

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As casas doadas às famílias, construídas pela Odebrecht e uma empresa terceirizada, estão sendo reconstruídas pela segunda vez e muitos reassentados estão morando em barracas. Poucos meses depois de serem entregues, as casas começaram a apresentar rachaduras e vazamentos. Além disso, a erosão começou a abalar a estrutura das casas. Não há água suficiente perto das terras que foram alocadas aos reassentados e muitos não conseguem plantar nada.

"Nos prometeram dois hectares de terra, só deram um, e uma terra ruim que não rende nada", diz João Salicuchepa Gimo, 39 anos, que mora com a esposa e sete filhos no assentamento de Cateme.

Afastados da cidade, eles não conseguem nem mais fazer os "bicos" que os sustentavam. "Antes, a gente complementava nossa renda vendendo roupas na cidade, a família chegava a tirar US$ 300 por mês. Agora, estamos tão longe de Tete, que não dá mais para fazer isso."

"Tivemos alguns problemas técnicos, como os defeitos construtivos na casa - o material que foi usado na parede e no piso por conta do excesso de calor e tipo de clima sofreu contração e trincou, tivemos de fazer melhorias ao redor da casa, para mitigar risco de erosão pela chuva", afirmou Ricardo Saad, diretor de implantação de projetos da Vale na África, Ásia e Austrália.

Segundo Esperança Bias, ministra dos Recursos Minerais de Moçambique, "houve sim falhas no processo de reassentamento". "Mas graças ao bom diálogo que existe entre o governo e as empresas está sendo possível resolver os problemas em Cateme em relação à qualidade de infraestruturas e oportunidades para as pessoas sentirem que o projeto também veio para beneficiá-las", disse a ministra.

O investimento estrangeiro é um dilema no país, que precisa muito de capital externo para se desenvolver. . A capacidade de investimento do Estado é muito limitada - mais de 40% do orçamento do país vem de doações externas.

Com a corrida do "carvão", o país cresceu 7,5% em 2012. A Vale emprega cerca de 1700 funcionários e 5000 terceirizados no país.


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