Folha de S. Paulo


Com indústria fraca, prévia do PIB tem o menor resultado desde 2009

O fraco desempenho da produção industrial e a desaceleração das vendas no varejo fizeram com que a economia crescesse pouco em dezembro e fechasse o ano com o pior resultado desde 2009, ano em que o país sofria os efeitos da crise financeira internacional.

É o que mostrou o IBC-Br, índice de atividade calculado pelo Banco Central com o objetivo de estimar o comportamento do PIB (Produto Interno Bruto).

Segundo este indicador, a economia brasileira cresceu 1,6% no ano passado. Mas o dado oficial, computado pelo IBGE a partir de informações colhidas dos setores da economia, só sairá na próxima semana.

DESCOMPASSO

Economistas estimam que o resultado oficial tenha ficado abaixo do observado pelo BC. As estimativas de analistas de consultorias e bancos giram em torno de 1%.

Silvia Matos, da FGV, observa que o descompasso entre o indicador do BC e o PIB aferido pelo IBGE ocorre desde o segundo semestre de 2011. Nesse período, o termômetro do BC apontava uma desaceleração mais severa da economia, o que não foi comprovado no PIB oficial. Naquele ano, a economia cresceu 2,7%.

Ao longo do ano passado, entretanto, o indicador do BC revelou resultados superiores aos verificados pelo IBGE, o que deve explicar esse erro para cima, explica Silvia.

"É um indicador válido para se avaliar a tendência da atividade mês a mês, mas não deve ser observado isoladamente de outros dados da economia", diz a analista.

Por isso, o dado divulgado ontem não alterou as estimativas feitas por economistas, que ainda apontam um PIBinho no ano passado.

"O resultado de 2012 foi muito frustrante em termos de atividade. E não houve sinais de recuperação até agora. E, por enquanto, não há indícios de retorno dos investimentos", afirma Rafael Bacciotti, economista da Tendências.

Em dezembro, segundo o IBC-Br, a economia cresceu 0,26%, menos do que havia crescido em novembro (0,57%). A desaceleração do ritmo de expansão da atividade era esperada diante dos indicadores de atividade industrial e do varejo.

As vendas do varejo restrito (sem contar automóveis e construção) recuaram 0,5% em dezembro ante novembro. Mesmo com vendas recordes de veículos, as vendas do varejo ampliado ficaram aquém do esperado por analistas.

A produção industrial ficou estável em dezembro, mas no ano o resultado foi de queda de 2,7% em relação a 2011. O cenário se repetiu em boa parte do país: dos 14 locais pesquisados, 9 tiveram retração.

VAREJO

O resultado do varejo, apesar de positivo, não foi suficiente para levantar o PIB.

O volume de vendas do comércio ampliado teve alta de apenas 0,6% nos últimos três meses de 2012, quando no trimestre anterior a alta havia sido de 2,1%. Em dezembro, as vendas cresceram 1,3% na comparação ajustada com o mês anterior.

"Houve antecipação da produção e das compras por conta da expectativa, por exemplo, do fim dos descontos no IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados]", afirma Luis Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil.

Silvia Matos, da FGV, afirma que dados de sondagens com empresários deste início de ano ainda não sugerem que a retomada tenha se firmado. "Embora haja indícios de que janeiro foi melhor para a indústria, temos certa cautela sobre o que virá nos próximos meses."

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

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