Folha de S. Paulo


Leia entrevista com a curadora da mostra "Food"

Marina Abramovic (Sérvia), Shimabuku (Japão), Pipilotti Rist (Suíça) e Lenora de Barros (Brasil) são alguns artistas do elenco "all star" da mostra "Food", que discute a relação do homem (e da arte ) com a comida. Composta de instalações, pinturas e esculturas, a exposição tem curadoria da suíça Adelina von Fürstenberg, que falou à Folha sobre o tema.

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Folha - Além de Giuseppe Arcimboldo, o pintor italiano do século 16, quais foram, em sua opinião, os outros grandes pioneiros em fazer arte com o tema "comida"?

Adelina von Fürstenberg - Mesmo antes de Arcimboldo já existia essa proposta. É só olhar os mosaicos do período helênico, que representam com frequência a comida. Essa arte pode ser encontrada nas naturezas-mortas do século 17, em Caravaggio e também, mais recentemente, em Morandi. Mas a partir do século 20 a comida não é mais só representação; é também expressão lúdica, no caso dos futuristas e surrealistas, passando pelo grupo Fluxus. Com Joseph Beuys, por exemplo, começou um período crítico de conscientização política da comida. Essa visão pode ser encontrada também na arte de Daniel Spoerri. Isso é particularmente presente, ainda, na produção artística de Antoni Miralda, que fez da comida a sua cultura. Não é por acaso que o trabalho dele se chama "foodculture". Miralda é um dos artistas que participam da mostra aqui em São Paulo.

Por que você decidiu participar de uma mostra com este tema?

Estou dirigindo uma ong - Art for the World - que trabalha especificamente com relação às problemáticas do mundo contemporâneo. Todos sabem que a comida é um dos pontos mais críticos de nossa sociedade, pois o alimento é parte de um mecanismo econômico de especulação que tem consequências para todos - questões como, por exemplo, resíduos alimentares, comida transgênica, junk food (que, como hoje em dia todos sabem, geram muitas doenças, como obesidade e enfermidades cardiovasculares).

Quão engajado é o mundo da arte em temas como a fome mundial?

No mundo da arte, assim como em todas as outras áreas da sociedade, existe quem é sensível ao problema da fome e quem não o é. Claro que, para nós e para muitos artistas, essas questões são muito importantes. Temos consciência, por exemplo, das questões que envolvem a monocultura - e das consequências que essa atividade produz na natureza, na agricultura e na economia local. Tudo isso gera um círculo vicioso que produz pobreza.

Exposição "Food". Abertura na qua. (dia 19), às 20h de ter. a sex., das 10h30 às 21h30; sáb. e dom., das 10h30 às 18h30 até 4/5 | Sesc Pinheiros


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