Folha de S. Paulo


Diretor do Afro Brasil 'tocou nos meus genitais', diz novo acusador

Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo, SP,, 04-12-2012 10h21: Retrato do artista plastico e diretor curador do museu Afro Brasil, Sr Emanoel Araujo, em sua casa no bairro Bela Vistal(Foto Eduardo Knapp/Folhapress. ILUARISSIMA)
Emanoel Araujo acusado de assédio sexual por ex-funcionários

Uma nova denúncia de assédio foi lançada contra o diretor do Museu Afro Brasil, Emanoel Araujo, 77.

As novas acusações partiram de Raphael Arruda, 32, que diz ter trabalhado na entidade de 2014 a 2016, inicialmente para servir de recepcionista na Copa do Mundo.

Ele conta à Folha que decidiu falar sobre seu caso após ler relatos semelhantes, que vieram à tona nos últimos dias, de dois ex-funcionários.

Segundo Arruda, eram sistemáticos os abusos cometidos pelo curador baiano. Quatro o marcaram mais:

1) "Ele me viu passando no corredor estreito e veio para cima de mim, falou coisas e lambeu a minha orelha";

2) "Durante uma abertura de exposição pede para um amigo dele tirar uma foto minha (sem meu consentimento) e diz que era para se masturbar depois";

3) "Disse que o dinheiro que gastaria para trocar seu carro preferia gastar para ter meu corpo";

4) "E, claro, já me tocou nos genitais".

Procurado pela Folha, Araujo disse que se manifestaria por meio de seu advogado, Belisário dos Santos Júnior.

Ele diz que "o curador recebe com indignação a publicação de novas declarações sem qualquer respaldo em prova ou em denúncia aos fatos relatados". Arruda, diz ele ainda, era considerado "mau funcionário a ponto de ter sido demitido em razão de descumprir obrigações".

'PADRÃO'

Arruda aponta um "modus operandi" nos assédios supostamente perpetrados pelo diretor do museu.

"Ele encontrava você em algum corredor, um lugar mais isolado, e vinha sempre com mão boba aqui, mão boba ali. Pode perguntar para os outros, é um padrão."

"Tenho carinho muito grande pelo Museu Afro Brasil e as pessoas que ali trabalham e até mesmo pelo sr. Emanoel, mas espero que ele responda diretamente à população, à Justiça e às pessoas que feriu", afirma Arruda em postagem no Facebook.

Segundo o advogado de Emanoel Araujo, o "museu não tem espaços físicos" como os que descreve Arruda.

"Suas paredes são de vidro. Os corredores de obras de arte são pensados para ampla circulação de público, inclusive de cadeirantes. Isso pode ser conferido in loco."

A Folha ouviu de três outras pessoas que passaram pela instituição que o clima de assédio era comum. Um ex-funcionário disse, em anonimato, que foi alvo de Araujo por meses, até voluntariamente se afastar do museu por não aguentar as investidas.

Procurado pela reportagem, o museu afirmou, por meio de sua assessoria, ter sido pego "totalmente de surpresa" pela acusação.

"Cumpre esclarecer não haver esse clima de 'assédio' dentro do museu. Os funcionários estão trabalhando, como sempre, no museu".

A nota dizia ainda: "Não temos qualquer registro de reclamação no mesmo sentido. As decisões da diretoria e de seu conselho serão oportunamente dadas a público."

ENTENDA O CASO

O educador Felinto dos Santos foi o primeiro a compartilhar o que diz ter testemunhado ou sentido na pele em cinco anos no museu.

Em depoimento publicado no Facebook, diz lá ter presenciado, de 2008 a 2013, "muitos assédios e abusos cometidos por seu diretor". O também ex-funcionário Newman Costa se somou à denúncia.

Araujo negou as acusações e disse que essas pessoas estariam incomodadas por ele ter criticado a artista Renata Felinto no "Roda Viva" exibido pela TV Cultura em 18/12.

Irmã de Felinto dos Santos e também ex-funcionária da instituição, ela moveu processo trabalhista contra o Afro Brasil. Araujo disse no programa que ela "teve uma atitude péssima com o museu, sendo negra, pondo o museu em uma situação de Justiça".

À Folha Araujo disse que, no Brasil, "você fala mal de uma pessoa, e ela te cria um problema de processo".


Endereço da página:

Links no texto: