Folha de S. Paulo


Obra de Beauvoir em Coleção debate feminismo e conflito geracional

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A escritora francesa Simone de Beauvoir (1908-1986)
A escritora francesa Simone de Beauvoir (1908-1986)

Uma das vozes mais atuantes do feminismo do século 20 e da luta pela igualdade de gêneros, a escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir (1908-86) está presente na Coleção Folha Mulheres na Literatura com a obra "Mal-entendido em Moscou".

O breve romance foi escrito no fim dos anos 1960, mas publicado pela primeira vez somente em 1992 pela revista francesa "Roman 20-50".

O volume é o quarto de 30 grandes livros escritos por mulheres e chega às bancas nesse domingo (3).

Deixado de fora da trilogia "A Mulher Desiludida" para dar lugar ao texto "A Idade da Discrição", o relato traz traços autobiográficos da autora e de sua relação com o filósofo e escritor francês Jean-Paul Sartre (1905-80).

Assim como os protagonistas Nicole e André, intelectuais maduros e de esquerda, o casal teve uma vida cheia de atividades políticas e culturais e testemunhou a experiência da União Soviética nos anos 1960.

O livro supera os pressupostos ideológicos de Beauvoir e cria, a partir dele, grande literatura, trazendo os temas de conflito de geração e reflexões sobre a velhice.

Ao tratar do envelhecimento, a autora parte da condição de ser mulher em uma sociedade ainda dominada pelos homens para refletir sobre como o processo pode ser diferente para o masculino e para o feminino.

A partir daí, mostra como o casal não consegue escapar do desgaste do corpo e da falta de interesse sexual no outro, o que culmina em uma crise conjugal e de identidade.

Refletir sobre a idade leva o casal Nicole e André a questionarem o tempo, a não mais ignorarem os projetos abandonados ao longo de suas vidas e a perceberem a esperança indo embora com a proximidade do fim da própria existência.

Com um ritmo rápido, intercalando os pontos de vista de Nicole e de André de forma simétrica –técnica que a autora francesa já havia utilizado em outros livros–, o texto mostra ao leitor como problemas de comunicação sempre culminam em um mal-entendido.

Nesse sentido, o leitor é um privilegiado, pois acompanha não apenas as ações da dupla mas seus pensamentos e suas preocupações.

André, decepcionado por não encontrar um ideal socialista puro em Moscou, reflete mais sobre questões políticas, enquanto Nicole coloca a sensibilidade em foco.

REFLEXOS

O fio condutor do romance é a visita que o casal faz a Macha, filha do primeiro casamento de André, que tem um papel central no conflito.

Mal-Entendido em Moscou (Vol. 04)
Simone de Beauvoir
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Se, por um lado, ela representa a mulher emancipada pela igualdade de gêneros da União Soviética, a enteada reflete também a idade de Nicole, o envelhecer e a invisibilidade da mulher madura, enquanto André se questiona sobre seu papel de pai e também de marido.

Escrito entre 1966 e 1967, "Mal-entendido em Moscou" é uma história íntima e ao mesmo tempo coletiva de uma época emblemática para o casal Simone de Beauvoir e de Jean-Paul Sartre.

Mais do que isso, a novela da autora francesa trata de temas que fizeram a fama da filósofa. Enquadram-se aí a emancipação da mulher, que vemos em Nicole e Macha, mas também em Irene, noiva do filho do casal, que como várias mulheres da época subsequente buscaram conciliar todos os papéis que lhes eram dados e que hoje voltam a questionar essa lista.


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