Folha de S. Paulo


Livro que inspirou filme sobre a Lava Jato demoniza investigados e exalta PF

Ricardo Borges - 8.fev.2017/Folhapress
O ator Ary Fontoura, que interpreta Lula, no set de filmagem do filme sobre a Operação Lava Jato
O ator Ary Fontoura, que interpreta Lula, no set de filmagem do filme sobre a Operação Lava Jato

De carona na estreia do filme "Polícia Federal - A Lei É para Todos" chega também o livro homônimo que inspirou a produção, escrito pela dupla Carlos Graieb e Ana Maria Santos.

Em 280 páginas, os autores destrincham os bastidores da Operação Lava Jato sob o ponto de vista dos agentes da Polícia Federal, usando recursos da literatura de ficção, como diálogos e a exploração dos dramas e dos dilemas dos envolvidos.

"Queríamos dar aspecto humano para esse trabalho de bastidor", diz Santos, que começou as pesquisas para o livro há dois anos. A equipe do filme participou de algumas das reuniões com os agentes e tinha um "esqueleto" da narrativa para que as obras não destoassem.

Ao criarem ritmo de thriller, com reviravoltas e cenas frenéticas de perseguição, os autores dão embalagem atraente para um assunto que poderia parecer árido.

"Tomamos liberdades, como entrar na cabeça dos policiais, mas sem inventar um discurso", afirma Graieb, ex-redator-chefe da revista "Veja" e atual subsecretário de Comunicação do governador paulista Geraldo Alckmin.

Santos trabalhou como diretora de operações em empresas e passou a escrever por hobby. "Polícia Federal" é o seu segundo livro.

Os autores não escondem o ponto de vista sobre o qual o livro se apoia. Assim como no filme, os policiais são retratados como eficientes, incansáveis e incorruptíveis.

O delegado Márcio Ancelmo é "obcecado por trabalho, estudioso, [com] capacidade fora do comum para processar informação". A colega Erika Marena tem "olho clínico" e é "cuidadosa ao extremo". E Igor Romário é um "bom gestor", "leal" e tem "firmeza e autoridade".

Quando traz à tona reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" que mostrou as afinidades partidárias desses policiais, exaltando o PSDB e atacando o PT nas redes sociais, o livro dá a deixa para eles se justificarem longamente: "Éramos apenas nós jogando conversa fora [...] A investigação é sobre crimes, não é sobre pessoas".

Polícia Federal - A Lei É para Todos
Carlos Graieb e Ana Maria Santos
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Já com os personagens do outro lado do inquérito, o livro não mostra o mesmo apreço. O ex-diretor da Petrobras Renato Duque é "prepotente", "arrogante", "rude" e "irascível". O empresário Marcelo Odebrecht é "insolente" e tem "sorrisinho provocador". O ex-deputado José Dirceu poderia até ter "genes perversos".

"Não acho que o livro tome partido. É o jeito como os policiais enxergam as coisas", diz Graieb. "Eles estão lá para investigar e prender."

E Sergio Moro? O juiz federal é "um tanto fora da curva" e mostra "ousadia e firmeza". "O Moro é foda", exaltam dois policiais/personagens. As ações do magistrado não são contestadas nem quando ele adota uma de suas atitudes mais controversas: retirar o sigilo da famosa conversa telefônica entre Lula e Dilma.

POLÍCIA FEDERAL - A LEI É PARA TODOS
AUTORES Carlos Graieb e Ana Maria Santos
EDITORA Record
QUANTO R$ 37,90 (280 págs.)


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