Folha de S. Paulo


DEPOIMENTO

Eu, Paulinho da Outra e Luiz Melodia

"Se alguém quer matar-me de amor..."

É impossível ouvir de alguém esse trecho sem completar cantando "...que me mate no Estácio...".

E foi assim, pego de surpresa, meu primeiro encontro com Luiz Melodia.

Eu estava numa padaria da Gávea tomando café com um amigo. Esse amigo viu Luiz Melodia entrando ali, sabia o quanto eu era fã e quis me avisar cantando baixinho os primeiros versos de "Estácio, Holly Estácio".

Eu, empolgado, cantei alto a continuação e quando olhei pro lado, Melodia estava olhando pra mim meio assustado. Eu, envergonhado e surpreso, tive a reação de ir lá, abraçá-lo e dizer: "Pô, cara, eu amo você". Ele sorriu.

Pro segundo encontro eu estava mais preparado. Era um show no Canecão. Melodia estava especialmente iluminado aquela noite. Uma amiga da produção me levou ao camarim.

Esperei minha vez treinando o que ia dizer: "Obrigado pela noite", não muito formal; "cara, você é demais", não muito xoxo; "que demais, Melodia"... enfim, tava nessa, quando ele grita na minha direção: "Ei, vem cá".

Gelei.

Ele me abraçou e começou a circular comigo pelo camarim, me exibindo aos amigos: "Vê se ele não é a cara do Paulinho da Outra, do Morro de São Carlos". E as pessoas iam confirmando. Ele me abraçou, rimos, eu disse que era fã, agradeci e fui embora.

Voltei a ver Melodia em muitos outros shows, mas nunca fiquei sabendo quem era Paulinho da Outra, por que ele tinha esse apelido, e se este sobrenome poderia representar algum perigo para mim, afinal tão parecido.

Nesta sexta (4) Melodia se foi. Um dos artistas mais brilhantes que conheci. Como é de praxe, por um tempo as músicas dele vão tocar mais por aí.

Então recomendo aos que quiserem descobrir ou redescobrir Melodia, que ouçam e sigam os versos de "Congênito": "Se a gente falasse menos, talvez compreendesse mais..."


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