Folha de S. Paulo


Mostra de gêneros discute preconceito e representatividade de artistas trans

Em seu quarto ano, a "Todos os Gêneros: Mostra de Arte e Diversidade", do Itaú Cultural, volta os olhos para o preconceito e a representatividade de artistas transexuais.

Isso porque a discussão de gênero hoje em dia estaria muito "à flor da pele", afirma Carlos Gomes, coordenador do Núcleo de Artes cênicas da instituição e um dos responsáveis pela programação.

"Acho que a gente teve alguns avanços e as pessoas se sentiram mais à vontade de falar de sua identidade de gênero. Assim, uma outra parcela mais preconceituosa da sociedade foi ganhando espaço e o conflito, antes mais arraigado, tomou corpo."

É em parte o que ilustra "No Soy Maricón", espetáculo que abre a programação terça (13). A peça do grupo mineiro Toda Deseo emula um show no qual quatro travestis contam suas histórias.

De início, as personagens dublam músicas com humor (como num show de drag queens), mas a comicidade vai dando lugar ao drama quando o áudio que interpretam se transforma em vozes de travestis reais, narrando situações de violência e repulsa que vivenciaram.

O preconceito e a aceitação também são o mote de "Filosofia na Alcova", adaptação do texto do Marquês de Sade feita com marionetes pela companhia mineira Pigmalião Escultura que Mexe, e "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu", em que a atriz transexual Renata Carvalho vive uma Jesus transgênero.

Na sexta (23), um projeto da performer Bruna Kury debate o fetichismo na pornografia. "Pornopirata" é uma banca de vendas dos chamados filmes "pós-pornô". A ideia é questionar os padrões de beleza e de gênero presentes nas produções eróticas.

Outras questões discutidas na mostra são a intersexualidade (quando uma pessoa não é totalmente do sexo masculino nem do feminino) e o papel da mulher –tema que não estava presente nas edições anteriores.

A programação teatral domina o festival: são sete peças, seis performances, dois espetáculos de dança, dois shows, dois workshops, uma mostra de curtas-metragens, debates e programação infantil. Mas, de acordo com Gomes, todas as atrações mesclam diversas linguagens.

Como as apresentações de Linn da Quebrada, misto de show de música e performance que encerra o festival no dia 25/6, e do espetáculo musical "#Não Recomendados", que usa canções de Chico Buarque e Gilberto Gil para questionar valores sociais.

A mostra também ocupará, de 14 a 17/6, o Teatro de Contêiner da Cia. Mungunzá, na Santa Ifigênia: o coletivo Mexa, que trabalha em casa de acolhimento de transexuais, dará uma oficina sobre gênero e oratória voltada à população do centro paulistano.

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TODOS OS GÊNEROS: MOSTRA DE ARTE E DIVERSIDADE
QUANDO 13 a 25/6
ONDE Itaú Cultural, av. Paulista, 149, tel. (11) 2168-1776/1777. E outros endereços
QUANTO grátis
PROGRAMAÇÃO itaucultural.org.br


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