Folha de S. Paulo


Crítica

Envolvente, mostra de Yoko Ono escapa à aridez conceitual

A dinâmica participativa e a alegria contagiante, que acontecem na mostra "O Céu Ainda é Azul", sobre a obra de Yoko Ono, são um tanto inesperadas.

Exposições sobre arte conceitual correm sempre o risco de serem áridas e sem vida, e isso tende a ocorrer porque esses trabalhos, boa parte deles criados nos anos 1960, podem perder seu contexto e seu interesse passa a ser mais histórico.

Há um acerto decisivo na mostra em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, com curadoria de Gunnar Kvaran, que é permitir que as instruções, uma das séries mais importantes da carreira da artista, possam ser realizadas no espaço expositivo.

Desde 1955, ela criou instruções, textos curtos e poéticos, alguns factíveis, outros não, que, pendurados em galerias, propunham ações que não precisariam ser ali realizadas, como por exemplo: "acenda um fósforo e assista até que se apague" -intitulada "Peça de Acender", esta foi a sua primeira instrução.

Xinhua/Rahel Patrasso
(170401) -- SAO PAULO, abril 1, 2017 (Xinhua) -- Un visitante recorre la exposición de Yoko Ono llamada
A exposição "O Céu Segue Azul, Você Sabe.." de Yoko Ono no Instituto Tomie Ohtake

PAPEL DA ARTE

O objetivo desse tipo de trabalho era viabilizar uma exposição sem objetos para venda, um dos princípios da arte conceitual, que visava repensar o papel da arte.

Ono começou a criar as instruções ainda no Japão, mas é em 1961 que elas se tornam conhecidas, quando a artista se junta ao movimento Fluxus, criado pelo lituano George Maciunas (1931-1978), em Nova York.

Em geral, as instruções costumam ser exibidas em folhas brancas, de forma sequencial, como ocorreu na retrospectiva de Yoko Ono há dez anos, no Centro Cultural Banco do Brasil, que incluía outras obras, organizada também por Kvaran.

Na presente exposição, das 65 instruções apresentadas muitas podem ser realizadas no lugar, e os tamanhos dos textos são variados, criando uma mostra dinâmica e envolvente.

Assim, ouve-se desde o tempo das pancadas da instrução de 1961 "Pintura para martelar um prego" -a qual dita que toda manhã seja pregado um prego em uma superfície até que ela se encontre "coberta de pregos"- ao barulho do acúmulo de pedras, na "Peça de Limpar".

A mostra segue ainda um roteiro, que começa abordando questões próximas ao campo da arte, e trata em sequencia do político e do social, como "Emergir", que pede a manifestação de mulheres e os depoimentos na mostra são de fato viscerais.

Raramente se viu uma exposição com tanto engajamento na cidade.

O CÉU AINDA É AZUL, VOCÊ SABE - YOKO ONO
QUANDO de ter. a dom., das 11h às 20h; até 28/5
ONDE Instituto Tomie Ohtake, r. Coropés, 88, tel. (11) 2245-1900
QUANTO R$ 12 (grátis às terças)
AVALIAÇÃO ótimo 


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