Folha de S. Paulo


Em novo livro, Joël Dicker deixa de lado o policial, mas não o suspense

Marcus Goldman está de volta. O escritor, personagem principal do best-seller "A Verdade sobre o Caso Harry Quebert", narra agora sua infância e adolescência ao lado dos primos, com quem formava a Gangue dos Goldman.

Após receber o prêmio de romance da Academia Francesa, ser traduzido em 42 países e vender cerca de 3 milhões de exemplares pelo mundo, o suíço Joël Dicker, 31, retoma seu protagonista.

Se antes Marcus investigava o assassinato de uma adolescente cujo corpo foi encontrado no jardim de seu mentor, em "O Livro dos Baltimore", que acaba de sair no Brasil pela Intrínseca, ele narra o Drama, com letra maiúscula, que assolou sua família.

Patrick Kovarik/AFP
O escritor suíço Joël Dicker, autor de 'O Livro dos Baltimore
O escritor suíço Joël Dicker, autor de 'O Livro dos Baltimore'

Marcus divide sua família em duas: os Goldman-de-Montclair, seus pais, da classe média de Nova Jersey, e os Goldman-de-Baltimore, seus tios, ele advogado, ela médica, e dois primos, ricos, importantes e carismáticos.

"É importante para mim não fazer sempre a mesma coisa, foi um prazer sair do policial para a crônica familiar", diz Dicker em entrevista à Folha, por telefone. "Eu escrevo pelo prazer de me lançar a algo que seja um desafio e de sair da rotina."

Com um narrador que também é um jovem escritor, difícil para o leitor não imaginar que Marcus seja uma espécie de alter-ego de Dicker.

O suíço, porém, rejeita qualquer comparação com o escritor morador de Nova York que, no romance anterior, ajudava seu professor, Harry Quebert, a provar sua inocência num assassinato.

"Há um pouco de mim no Marcus porque eu o criei, mas eu não sou esse personagem, e para mim o que é mais importante quando escrevo não é falar da minha vida mas, ao contrário, fazer algo completamente diferente."

Mas, ao longo do livro, como no anterior, Marcus divaga sobre o trabalho da escrita, e ali vê-se Dicker.

"O que Marcus é e o que ele narra não tem a ver comigo, mas, quando ele fala da escrita e de sua relação com ela, é mais pessoal e está ligado ao que eu penso de verdade", diz de sua casa em Genebra.

A história de "O Livro dos Baltimore" se passa antes da de "A Verdade", quando, em 2012, Marcus deixa Nova York para se refugiar na Flórida e escrever um novo livro.

Dicker diz que teve a ideia para esse seu terceiro romance publicado após terminar de escrever o segundo, mas antes de ele ser lançado.

"Eu comecei a escrever antes de saber o sucesso que 'A Verdade' teria", diz. "As pessoas acham que eu retomei o personagem porque queria que o sucesso se repetisse, mas o que me convenceu a continuar foi a percepção de que eu estava num registro completamente diferente, de que não seria uma continuação."

MISTÉRIO

Embora o gênero não seja o policial, em "O Livro dos Baltimore" permanece o mistério. O Drama que, em 2004, destrói os Goldman-de-Baltimore, se revela ao leitor apenas ao fim do romance.

Intercalando saltos para o passado -em que narra infância e adolescência com seus primos Hillel e Woody, os três apaixonados por Alexandra (que se torna, posteriormente, uma cantora famosa)- e encontros com seu tio Saul, já arruinado pela tragédia, Dicker consegue manter o suspense, e assim, o interesse do leitor, até o fim.

Na Flip de 2014, Dicker disse que o livro levaria que consigo a uma ilha deserta seria "Ratos e Homens", de John Steinbeck (1902-1968).

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O novo romance do suíço ecoa em diversos momentos a obra do americano -essa é também a peça que seu primo Hillel é impedido de montar na escola.

"Em sua obra, Steinbeck narra uma América do interior de forma muito fiel e com um olhar que poucos tiveram", diz Dicker. "Em 'Ratos e Homens' a força dos personagens teve grande ressonância sobre mim."

O LIVRO DOS BALTIMORE
AUTOR Joël Dicker
TRADUÇÃO André Telles
EDITORA Intrínseca
QUANTO R$ 49,90 (416 págs.)


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