Folha de S. Paulo


OPINIÃO

Amazon Prime Video parece locadora de vídeo falida

Programou passar o fim de semana entregue a uma maratona de novidades oferecidas pelo Amazon Prime Video? Acha que 50% de desconto nos seis primeiros meses da assinatura pode ser um presente bem em conta neste Natal de renas magras? Segure a onda!

O serviço de streaming da Amazon, lançado no Brasil na última quarta (14) com a promessa de ser o maior concorrente à poderosa Netflix, vai precisar diversificar muito seu acervo para se impor.

Quando chegou, em 2011, a Netflix também recebeu críticas pela limitação de seu acervo. Aos poucos, firmou sua posição mais com quantidade do que com a qualidade. O lançamento da Amazon, porém, foi feito num ambiente que já conta com diversas opções de VOD ("video on demand").

Beth Dubber/Divulgação
Cena da serie Transparent, da Amazon, com Jeffrey Tambor interpretando Maura Pfefferman ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Cena da serie "Transparent", da Amazon, com Jeffrey Tambor interpretando Maura Pfefferman

Sua única vantagem ainda é o pacote de séries originais, que os viciados podem ver inteiro nos primeiros sete dias de degustação oferecidos sem nenhum custo. As premiadas "Transparent" e "Mozart in the Jungle" são os principais destaques.

A caprichada produção de "O Homem do Castelo Alto", adaptação de um clássico da distopia de Philip K. Dick, tem os dez episódios da primeira temporada prontos para assistir ou baixar, pois o serviço da Amazon oferece esta opção. A segunda temporada foi ao ar na quinta (15) nos EUA e não tem data para chegar aqui.

Um juiz corrupto confrontado pelo julgamento divino em "Hand of God", o intricado jogo de existencialismo e assassinatos em "Bosch" e o atrapalhado cotidiano de um adolescente nos anos 1980 em "Red Oaks" completam o pacote de novidades para o público adulto escolher entre dramas, policiais e comédias.

Para crianças, há aventuras um pouco mais fantásticas ("Just Add Magic") ou cotidianas ("Gortimer Gibbons"), além de três animações.

Mas quem ainda prefere filmes terá a sensação, por enquanto, de que entrou num túnel do tempo e desembarcou no interior de uma locadora falida. Com exceção de "Nuts!", um documentário de animação premiado em Sundance em 2016, os títulos mais novos do Amazon Prime têm quatro anos ou mais.

Os principais destaques na tela inicial são "Star Trek" (2009), "Meu Malvado Favorito" (2010) e "Missão Madrinha de Casamento" (2011). O pacote de títulos está mais para um requentado da Tela Quente do que para séria ameaça ao nicho do Oldflix (serviço de streaming dedicado aos filmes antigos e clássicos).

Exemplos de títulos "exclusivos" garimpados entre os 140 longas com opção de legendas em português: "Ghost: Do Outro Lado da Vida", "Flashdance", "Náufrago", "Um Tira da Pesada", "A Garota de Rosa Shocking", "Top Gun", "Crocodilo Dundee"...

Quem sente atração por sabores exóticos pode se interessar pelo pacote diferenciado de 15 filmes de Bollywood. No entanto, cinco têm legendas só em inglês e os outros dez só poderão ser apreciados por quem já é fluente em hindi.

A qualidade da imagem é outro fator essencial que precisa ser solucionado. Nas configurações, é possível escolher três níveis ("good", "better" e "best", pois a interface está toda em inglês), mas a diferença é nenhuma.

Tentei assistir a "Parque dos Dinossauros" nas três opções e foi como visitar a pré-história do streaming, com a imagem em baixa resolução de uma cópia ripada de um antigo DVD. A diferença é que naquela época ninguém estava acostumado a ver tudo em alta definição.


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