Folha de S. Paulo


Crítica

Desempenho de elenco de comédia pornô nacional não é convincente

O sujeito acorda com a tenda armada e, antes de ir para a escola, se dá uma mãozinha. A mãe entra no quarto durante o processo e é o circo que está armado. A cena inicial de "Porky's" (1981), duas décadas depois resgatada pela franquia "American Pie", se repete neste dia 1º, quando estreia nas salas brasileiras "O Último Virgem".

A comédia erótica segue o roteiro clássico: CDF procura desesperadamente perder a virgindade entre o fim do ensino médio e começo da faculdade. Aqui, o papel do bocó punheteiro fica a cargo de Guilherme Prates, que tem o humor estampado na cara. Mas feições enganam e, assim que os outros personagens surgem, seca toda e qualquer risada.

A trupe trapalhona do protagonista é composta por: o hippie maconheiro, o gordo escroto e marombeiro de cérebro atrofiado. Até aí, tudo bem, bons filmes de comédia escrachada se escoram em clichês –corpos cavernosos do ofício. É um gênero babaca. Mas é engraçado, acima de tudo e de tonto.

Vantoen Pereira Junior/Divulgação
Créditos: Vantoen Pereira Junior/Divulgação Legenda: Cena de 'O Ultimo Virgem'. PARA USO EXCLUSIVO DA COLUNA SEM LEGENDA ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Cena de 'O Ultimo Virgem'

Os garotos se metem nas maiores enrascadas com uma turma de personagens muito loucos (e rasos) do barulho enquanto só pensam naquilo. Embrenham-se em biroscas da Lapa carioca, onde se deparam com traficantes, fuzis e dildos cor-de-rosa. Enfiam uma trupe de alemãs num carro caindo aos pedaços. Perigam conseguir "aulas particulares" com a professora mais gostosa do colégio –quando o programa do Faustão tiver um prêmio Piores do Ano, por favor não se esquecer de indicar Fiorella Mattheis. Terminam no xilindró com um estoque de Viagra genérico.

Todos elementos da epopeia poderiam se encaixar num "Se Beber Não Case" tupiniquim. Só que o texto e a direção de Rilson Baco e Felipe Bretas deixam na sala cheiro de montagem do festival esportivo e cultural do colégio.

É mais fácil acreditar na atuação de uma garota de programa da rua Augusta na alcova (ou num michê da Bela Vista, para não resvalar no machismo que dá tom ao filme) do que na condução que o elenco dá para um texto já desestimulante.

As piadas saem fora do tempo. São ora só ofensivas –mas não ofensivas o suficiente para causar riso de nervoso– e ora ingênuas demais prum bando de onanistas cariocas. O texto parece ter sido pensado por um tiozão do "é pavê ou pra comer?". Spoiler, quem for encarar a hora e meia vai se deparar com pérolas como: "Amigo de homem é mão esquerda".

Há um ou outro momento de inspiração. Mas sacadas como a da direção de arte, que faz os créditos imitando o design de embalagens de camisinha ou de tubos de lubrificante, não abundam, e se resumem a meia dúzia de piadas que arrancam risos de uma expiração. No mais, é sexo visto através de lentes moralistas e mais nada. O sexo nessa comédia sexual é tão asséptico como em "De Pernas Para o Ar", outra comédia que finge falar de vuco-vuco nu e cru, mas só entrega para um grandessíssimo público um humor brochante.

"O Último Virgem" poderia pular a exibição na tela grande e ir direto para a "Tela Quente", onde talvez não fizesse feio. Talvez.

O ÚLTIMO VIRGEM
DIREÇÃO Rilson Baco e Felipe Bretas
ELENCO Guilherme Prates, Bia Arantes, Fiorella Mattheis, Lipy Adler
PRODUÇÃO Brasil, 2016, 14 anos
QUANDO: 1º de dezembro


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