Folha de S. Paulo


Programa da São Paulo Companhia de Dança mescla sexo, esporte e hip-hop

Sexo, esporte e hip-hop –não necessariamente nesta ordem– vão entrar na temporada da dança a partir desta quinta (17), no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.

O programa desta semana da SPCD (São Paulo Companhia de Dança) foi apelidado de "brasileiros", pois as obras foram feitas por nomes da atual geração de criadores nacionais, a convite da companhia ou durante o ateliê de coreógrafos, programa realizado pelo grupo desde 2012.

São duas estreias, "Ngali...", de Jomar Mesquita, e "Pivô", de Fabiano Lima, além de "Gen", montada por Cassi Abranches no ateliê de 2014.

"Ngali..." é a dança do amor a três, que se desenrola quando um terceiro elemento entra com seu jogo de sedução para desestabilizar a coreografia de cada duo de bailarinos –Mesquita, diretor da Mimulus, de Belo Horizonte, pesquisa há anos as possibilidades da dança a dois.

Wilian Aguiar/Divulgação
Cena da coreografia
Cena da coreografia "Ngali...", espetáculo da temporada de novembro de 2016 da Companhia de Dança

O nome do espetáculo é uma palavra de origem aborígine da Austrália Ocidental, que, numa tradução livre, significa: "nós dois, incluindo você".

Sua inspiração é "La Ronde", peça do austríaco Arthur Schnitzler (1862-1931) adaptada para o cinema por Max Ophüls, em 1950, e Roger Vadim, em 1964 –versão que causou furor por causa da cena de nudez da atriz Jane Fonda.

"Quando estava conversando com a Inês [Bogéa, diretora da SPCD] sobre a nova criação para a companhia, surgiu a ideia de 'La Ronde'. Assisti ao filme de Ophüls e fiquei fascinado", conta Mesquita.

O coreógrafo não se preocupou em ser fiel ao longa, mas quis manter a variedade de casais da obra original: a prostituta que transa com o soldado que transa com a empregada que transa com o filho do patrão que etc...
A fila do desejo anda com os pares se multiplicando a cada vez que um dos 12 duos de bailarinos se torna um trio e se separa formando um novo casal.

"Gosto de trabalhar quando o desejo está à flor da pele, é carnal, mas às vezes é difícil extrair isso corporalmente do bailarino de formação clássica. Ninguém beija na boca usando sapatilha de ponta", diz Mesquita.

Em "Ngali...", com sapatilha e tudo, os bailarinos beijam, brincam, seduzem, transam e traem ao som da velha e da nova guarda da MPB –a trilha vai de Lupicínio Rodrigues à banda transexual As Bahias e a Cozinha Mineira.

DREAM TEAM

"Pivô", a outra estreia do programa, coloca hip-hop, basquete e dança contemporânea na ópera "O Guarani", de Carlos Gomes.

Em uma semana de notícias ruins para o basquete (as equipes brasileiras foram suspensas de torneios até janeiro), a criação de Fabiano Lima pode ser um alento: seu "dream team" de bailarinos joga conforme a música e surpreende nos passes e nas cestas imaginárias.

As bolas, porém, são bem reais. "Foi um desafio para os bailarinos, porque a bola tem vontade própria", conta Inês Bogéa, diretora da SPCD.

Domadas pelo elenco, as bolas de basquete transformam os movimentos e criam novas formas no espaço, em sintonia com o tema de toda a temporada 2016 da companhia, "Jogo de Linhas".

Finalizando o programa, a SPCD apresenta "Gen", obra que marca a saída de Cassi Abranches dos palcos para se dedicar à função de coreógrafa –bailarina do Grupo Corpo por 12 anos, Abranches é a provável sucessora de Rodrigo Pederneiras na criação de coreografias para a companhia mineira.

*

SÃO PAULO COMPANHIA DE DANÇA
QUANDO qui. (17) e sáb. (19), às 21h; sex. (18), às 21h30; dom. (20), às 18h
ONDE Teatro Sérgio Cardoso, r. Rui Barbosa, 153, tel. (11) 3288-0136
QUANTO de R$ 20 a R$ 40
CLASSIFICAÇÃO livre


Endereço da página: