Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Prêmio a Rami Malek sinaliza tendência, mas Emmy segue previsível

Ao premiar Rami Malek com o Emmy de melhor ator dramático no domingo (18), a Academia de Artes e Ciências Televisivas parece confirmar o surgimento de um novo tipo de protagonismo na TV.

Malek é um jovem artista de 35 anos. Está em seu primeiro grande trabalho, como o hacker introspectivo de "Mr. Robot", drama distópico sobre tecnologia aclamado pela crítica americana.

E ele é diferente de todos os atores que a premiação reconheceu na última década. Além de mais novo, a ascendência egípcia e grega confere ao ator cor e feições diferentes dos antecessores.

Não interpreta um antiherói -como Jon Hamm em "Mad Men" (2015), Bryan Cranston em "Breaking Bad" (2014, 2010, 2009, 2008) ou Damian Lewis (2012), o Brody de "Homeland". Ao contrário, o novo vencedor do Emmy segue motivações ativistas em "Mr. Robot".

Veja os principais vencedores do Emmy 2016

A vitória de Malek rompe com o enunciado que fundou a proclamada era de ouro americana, com "Família Soprano", em 1999: o protagonismo de homens de personalidade ambígua, atormentados e com moral duvidosa.

Mas foi só. À exceção do merecido (e surpreendente) prêmio de atriz dramática a Tatiana Maslany por "Orphan Black", em que se estilhaça em dez personagens, a 68ª edição do Emmy foi bastante previsível, como manda a tradição da principal premiação da TV.

Elegeu pelo quinto ano consecutivo Julia Louis-Dreyfus como a melhor atriz em um seriado de comédia por "Veep", numa obsessão da Academia que superou os quatro prêmios já concedidos a Jim Parsons pela sitcom "Big Bang Theory".

E, conforme o esperado, deu o bicampeonato de melhor drama a "Game of Thrones". Outras duas estatuetas, de roteiro e direção, somaram 38 troféus para a megaprodução da HBO, que é agora a mais premiada da história.

Tediosa, a cerimônia careceu de discursos históricos como o de Viola Davis no ano passado -ao ser a primeira atriz negra a receber um troféu, atacou o racismo na indústria do entretenimento.

Os pontos altos da festa se resumiram a piadas com Donald Trump (e com o reality show que apresentou, "O Aprendiz"), a entrada das crianças de "Stranger Things" distribuindo sanduíches em bicicletas e comentários sobre a diversidade da festa.

"A única coisa que valorizamos mais do que a diversidade é nos parabenizar pela nossa diversidade", ironizou o apresentador Jimmy Kimmel, anfitrião da noite.

Com 21 atores não brancos (19% do total) entre os finalistas, neste ano o Emmy tratou de corrigir o desequilíbrio do Oscar, que ignorou artistas de outras origens étnicas.

Premiou três, nas categorias de minissérie: Regina King, coadjuvante por "American Crime", além de Courtney B. Vance (melhor ator) e Sterling K. Brown (coadjuvante), ambos por "American Crime Story - O Povo contra O.J. Simpson", que levou outras três estatuetas na noite.

Triste, porém, que "The Americans" tenha saído de mãos abanando. O drama sobre um casal de espiões soviéticos infiltrados nos EUA nos anos 1980 encerrou uma temporada brilhante, que garantiu suas primeiras indicações nas categorias principais do Emmy em quatro anos.

O seriado estabelece um diálogo retrô com "Mr. Robot". Os dois transitam em um mesmo universo de espionagem e paranoia e propõem uma reflexão obre o estilo de vida nos EUA.

Pelo jeito, terá de esperar pelo inverno de "Game of Thrones" acabar.


Endereço da página:

Links no texto: