Folha de S. Paulo


Segunda temporada de 'Narcos' tocará em temas delicados aos colombianos

A segunda temporada da série "Narcos", que estreia no Netflix no próximo dia 2 de setembro, tem um ritmo mais vertiginoso, enquanto aborda episódio delicado da história política colombiana recente.

Vertiginoso porque, se a primeira temporada da série que conta a trajetória do líder do Cartel de Medellín, Pablo Escobar (1949-1993), cobriu 15 anos de sua vida –do início no crime à formação de seu império do mal–, a segunda mostrará apenas seus últimos 18 meses. Aqueles em que foi caçado até a morte. Durará dez episódios.

Delicado porque a série terá o desafio de mostrar como meios não-convencionais e à margem da lei foram usados pelo governo colombiano para finalmente cercar e assassinar Escobar.

Segundo a versão oficial, sua execução foi realizada por forças do Exército e da polícia. Porém a participação do grupo de criminosos inimigos de Escobar (os chamados Pepes, "Perseguidos por Pablo Escobar") foi crucial tanto na perseguição como no assassinato. Afinal, os Pepes podiam fazer coisas vetadas aos oficiais, como matar familiares dos líderes da droga, localizar e roubar seus laboratórios, e assim fragilizá-los.

Quem deu, afinal, o tiro de misericórdia no barão da droga é ainda um tema de ampla polêmica na Colômbia. E como essa morte será mostrada na série vai ser o grande desafio de roteiristas e produtores.

Em pré-estreia mundial na noite desta terça (23), em Bogotá, foi exibido o primeiro capítulo da segunda temporada, cuja produção-executiva é do americano Eric Newman e do brasileiro José Padilha.

O brasileiro Wagner Moura surge encarnando bem esse novo momento de Escobar. O ator aparece com um ar mais vulnerável, aspecto físico mais degradado e mais gordo. Porém com o mesmo olhar desafiante, capaz de abrir uma coluna de soldados com armas apontadas para ele apenas ao encará-los e escapar dali caminhando tranquilamente.

Apesar dos avisos de que "Narcos" se trata de uma ficção baseada na realidade, muitos colombianos a leem como uma releitura da história. De fato, aspectos cronológicos básicos são respeitados e o nome real dos personagens verdadeiros é usado.

Alguns dos protagonistas do período, porém, não quiseram ver-se retratados dizendo ou fazendo coisas que afirmam não terem ocorrido. É o caso da jornalista Jimena Duzán, que teve papel importante quando o diário "El Espectador" foi alvo de atentados e seu diretor, Guillermo Cano, assassinado. Ou de alguns ex-presidentes, que preferiram não contribuir.

A trama desta segunda temporada começa com a fuga de Escobar da prisão de La Catedral, em 1992. Além de tentar esconder-se, o barão da droga precisa continuar mantendo seu império em pé. Alguns aliados, vendo o patrão debilitar-se, passam a querer se aproveitar da situação e a roubar seus negócios, tomando laboratórios de cocaína e o controle de rotas do tráfico. Neste primeiro episódio, Escobar mostra que não deixará isso barato, pelo menos enquanto puder.

Os personagens norte-americanos dos dois agentes da DEA, Steve Murphy (Boyd Holbrook) e Javier Peña (Pedro Pascal), aparecem costurando os primeiros acordos com os Pepes. Aí certamente haverá mais polêmica, porque a participação dos EUA na caçada a Escobar também é nebulosa. Oficialmente, ela se deu apenas por meio de contribuições em inteligência. Mas, na série televisiva, ambos são mostrados como verdadeiros protagonistas da caçada ao criminoso.

"A gente sente que entregou nossa história para o mundo, pode não ser bem a história que ocorreu, mas mesmo assim é bom que se difunda, para que não se repita", disse o estudante Alexis Duarte.

Já o diretor Andrés Baiz, presente na apresentação, afirmou que "Narcos" é uma "prova de que a Colômbia é um país que resiste à violência". "O fato de podermos fazer esse show aqui, no nosso país, é uma mostra de que podemos superar a violência e sair adiante".

Trailer de 'Narcos'


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