Folha de S. Paulo


Grupo Corpo reúne coreografias emotivas em programa com 'Lecuona'

Vai ter paixão rasgada, cenas de ciúmes e beijo na boca. "Lecuona", coreografia de 2004 do Grupo Corpo, está de volta a São Paulo no programa que a companhia mineira apresenta desta quinta (4) a 14 de agosto na temporada de dança do Teatro Alfa.

A obra, baseada nas músicas do compositor cubano Ernesto Lecuona (1895-1963), faz par com a outra coreografia do programa, "Dança Sinfônica", com trilha de Marco Antônio Guimarães, criada no ano passado para comemorar os 40 anos do Corpo.

José Luiz Pederneiras/Divulgação
Cenas de
Cena de "Danca Sinfonica", do Grupo Corpo, que integra o programa com 'Lecuona'

São duas danças com forte carga emocional que se encontram agora por imprevistos do destino –como nas típicas histórias de amor.

Inicialmente, a temporada paulistana previa a apresentação de "21", criada em 1992, também com música composta por Guimarães, do grupo Uakti, que encerrou suas atividades em outubro de 2015.

"Como o Uakti acabou, preferimos não usar músicas deles para evitar problemas", explica Rodrigo Pederneiras, coreógrafo do Corpo.

"Lecuona" é uma exceção no repertório da companhia que, desde 1992, só trabalha com músicas criadas especialmente para suas montagens.

"Foi um caso de sorte e paixão", diz Rodrigo, voltando ao tema das canções do cubano. Ele se apaixonou pelo compositor ao ganhar uma fita cassete do crítico e ator João Cândido Galvão. Mas o artefato de gravação pré-digital não resistiu ao tempo. A fita quebrou, Galvão morreu (em 1995) e Rodrigo não encontrou outras gravações de Lecuona.

Mas, no início dos anos 200, quando estava em turnê por São Francisco (EUA), Rodrigo se deparou com um vinil dessas músicas num sebo.

"Quando isso aconteceu, sabia que tinha que fazer a coreografia com essa trilha. Daí comecei um trabalho meio chato para convencer o Paulo a montar", diz ele.

Paulo Pederneiras, irmão de Rodrigo e diretor artístico do Corpo, conta que, na época, assustou-se com a proposta de Rodrigo: montar um espetáculo só com pas-de-deux (coreografias em duplas).

"Pensei: 'Será que a gente aguenta só duplas o tempo todo?'. Aguentamos, e ficou uma joia", afirma Paulo.

Cada pas-de-deux é uma peça de alta-costura criada para o corpo de cada bailarino. "São histórias de mulheres loucas, apaixonadas", diz a bailarina Janaína Castro, 39, que estreou "Lecuona" aos 26 anos e estará no palco do teatro Alfa nesta temporada.

Junto com ela, apresentam-se bailarinas mais novas, que nunca tinham ouvido as canções românticas dos anos 1940. "Falo para elas: 'Solta a louca', para deixarem a emoção sair já no ensaio. Se sair só na hora do palco, elas vão se assustar", afirma Janaína.

O lado emocional também afetou "Dança Sinfônica". A coreografia começou a ser montada quando o grupo soube que a filha de uma bailarina do elenco estava com câncer. "A menina vivia na companhia, assistia a ensaios, aulas. Dediquei essa peça à mãe, foi uma forma de o grupo acalentá-la um pouco, dar um colo", conta Rodrigo.

GRUPO CORPO
QUANDO De 4/8 a 14/8; qua. e qui., às 21h; sex., às 21h30; sáb., às 20h; dom., às 18h
ONDE Teatro Alfa, r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel.(11) 5693-4000
QUANTO de R$ 50 a R$ 150
CLASSIFICAÇÃO Livre


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