Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Rascunhos em pequenos formatos realçam sofisticação de Volpi

Alfredo Volpi (1896-1988) é dos poucos artistas que possuem reconhecimento em três segmentos que nem sempre coincidem: público, crítica e mercado. Não é fácil alcançar essa posição, anunciada há mais de 50 anos pelo crítico Mário Pedrosa: "No Brasil, não há mestre que o supere".

"Volpi: Pequenos Formatos", em cartaz no Museu de Arte Moderna de São Paulo, é uma dessas ótimas oportunidades para se entender os motivos dessa unanimidade. Com curadoria de Aracy Amaral e assistência de Paulo Portella Fillho, a exposição apresenta 74 peças de pequenas dimensões, em geral estudos para trabalhos maiores, todas do colecionador Ladí Biezus.

A partir daí pode se entender o motivo da apreciação do mercado. Volpi possuiu um grupo pequeno de colecionadores, chamados "volpistas",entre eles Biezus. Esses amigos, que frequentavam seu ateliê aos sábados, eram tão próximos do mestre que a eles Volpi delegou em testamento o cuidado com a catalogação de sua obra. Isso tirou da família o poder de controle absoluto.

No entanto, como esse grupo reuniu centenas de trabalhos, criou uma estratégia muito bem elaborada ao cuidar para que a inserção do artista no mercado siga desde vendas limitadas e pontuais, para não desvalorizar o profícuo produtor de mais de 2.000 obras, evitando que trabalhos falsos não coloquem em risco a moral do nome de Volpi.

Quanto à crítica, a exposição no MAM é exemplar. Através da acurada seleção de Amaral, percebe-se a trajetória de Volpi no que Biezus considera "a redução progressiva do complexo para o simples".

Apesar da simplificação de Volpi ser algo realizado por muitos outros de sua geração, que partiu da representação convencional modernista para a abstração geométrica, sua originalidade está na constante referência à cultura local, o que pode explicar a aceitação popular.

Assim, mesmo sem fazer parte dos grupos concretos, que dominaram a cena brasileira dos anos 1950, talvez Volpi seja o construtivista brasileiro mais autêntico.

A excepcionalidade da mostra, no entanto, está em deixar transparecer seu processo criativo: em todas as suas fases, Volpi experimentava primeiro em formatos menores, rascunhos, que os "volpistas" sabiamente adquiriram e preservaram. Em um debate formalista, poderia até se colocar em dúvida se os trabalhos expostos deveriam de fato ser considerados acabados. Aracy Amaral passa ao largo dessa arapuca.

Volpi tem nos pequenos formatos uma sofisticação que vai além de simples estudos. Eles são suficientes em si mesmos, mesmo que realizados sobre papel, uma material que se decompõe de forma muito mais intensa que a tela.

Sem dúvida há aqueles que podem até afirmar que Volpi se resolva melhor nos pequenos formatos –o que seus colecionadores iriam desmentir rapidamente em beneficio do valor de suas obras em formatos maiores. Mas essa discussão, frente ao que se vê no MAM, soa retórica.

Afinal, tanta faz o formato, não há mestre que o supere.

VOLPI: PEQUENOS FORMATOS
QUANDO ter. a dom., das 10h às 17h30; até 18/12
ONDE MAM, parque Ibirapuera, av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 3, tel. (11) 5085-1300
QUANTO R$ 6 (grátis aos domingos)


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